Várias denúncias enviadas pela Igreja ao Ministério Público (MP) relativas a alegadas práticas de abuso sexual não estão contempladas nos números avançados na quarta-feira por aquela instituição.
Foi com estranheza que Paula Margarido, da coordenação das comissões diocesanas, viu ontem a divulgação dos números de denúncias recebidas e processos em investigação por parte dos magistrados do MP.
“Nestes dados da Procuradoria, também me suscitou uma certa curiosidade não estarem ali mencionadas denúncias, participações realizadas pela Igreja, falo de dioceses e arquidioceses e também comissões diocesanas”, sublinha.
Paula Margarida diz ter conhecimento “de que dioceses e arquidioceses e também comissões diocesanas em face das denúncias que lhe chegaram fizeram as participações para o Ministério Público e esses números não estão ali considerados”.
A mesma responsável reporta-se a casos que conhece de forma pessoal para lembrar que as denúncias não são enviadas apenas pelo Grupo VITA ao MP, mas também por estas instituições da Igreja.
“Nos termos do documento que temos das 21 comissões diocesanas está lá previsto este procedimento”, concretiza.
A Renascença já questionou a Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre esta matéria e aguarda resposta.
O Ministério Público investiga nesta altura 14 casos de alegados abusos. Mais de 30 inquéritos acabaram arquivados, segundo dados divulgados na quinta-feira pela PGR.
“Não causa estranheza este número de arquivamentos porque é um tipo de crime em que há um agressor e um acusado, em privado. Estamos aqui a falar de um crime que tem um prazo prescricional de 10 anos sendo certo que quando as vítimas têm 23 anos ele está prescrito. Não espanta que muitos destes arquivamentos tenham a ver com a falta de prova e o prazo prescricional”, detalha
A situação já tinha sido relatada pelo Grupo VITA, mas também às dioceses estão a chegar casos mais recentes.
"Temos algumas denúncias de jovens com 19 ou 20 anos, e que o abuso sexual aconteceu quando tinham 15 ou 16 anos e este agressor também está aí, e também isso tem de ser trabalhado para que não permaneçam essas praticas”, explica.
Paula Margarido revela que há nesta altura dois elementos ligados à Igreja a receber apoio psicológico.
“Além do agressor que foi dado a conhecer via Grupo VITA também temos outro agressor que chegou através da denúncia de um grupo diocesano. Está a receber o apoio devido para que num futuro próximo esteja a conviver em sociedade sem este tipo de práticas sexuais desviantes”, remata.