Mais de 500 quilos de resíduos todos os anos por habitante, um desperdício de água na ordem dos 30% nas cidades e 456 espécies ameaçadas de extinção são alguns dos números que a associação Zero dá a conhecer e que quer alterar.
“Os resíduos, nós temos agora uma produção maior que já chega às praias de máscaras, de luvas que as pessoas nem no lixo colocam. Já estamos a piorar novamente a qualidade do ar, a aumentar novamente as emissões”, afirma à Renascença Francisco Ferreira, dirigente daquela associação ambientalista.
Nesta sexta-feira, assinala-se o Dia Mundial do Ambiente e a Zero alerta que, passados os primeiros efeitos positivos, a pandemia não está a fazer muito pelo ambiente.
“Se não aprendemos realmente com aquilo a que fomos obrigados nos últimos três meses a mudar, arriscamo-nos, e de forma muito mais violenta, nos próximos anos a ter que enfrentar uma crise ambiental que está anunciada, que está confirmada e que nós deveríamos precaver”, avisa o ambientalista.
Por isso, e para assinalar este dia, a Zero identificou 12 números que terão de ser mudados e que ficaram aquém das expectativas. Por exemplo, as metas em relação à qualidade do ar, à reciclagem e à produção de lixo.
12 números para mudar
- 55 mg/m3: a média anual de dióxido de azoto (NO2) na Av. da Liberdade, em Lisboa, em 2019 (o limite legal é de 40 mg/m3);
- 66 dBA: ruído noturno medido no Campo Grande, em Lisboa. O limite legal é 55 dBA (o ruído tem consequências gravíssimas para a saúde pública e há um incumprimento generalizado da legislação);
- 25,6%: percentagem de emissões de gases de efeito de estufa dos transportes em 2018;
- 30%: desperdício de água no setor urbano. A meta para 2020 é 20% (Zero defende um programa renovado e efetivamente implementado com metas para 2025/2030);
- 12%: reciclagem de plástico em Portugal em 2018. Só se reciclaram 72 mil das 600 mil toneladas de plástico produzidas nas casas dos portugueses;
- 507 kg: produção anual de resíduos por habitante, em 2018. A meta para 2020 é 410 kg/hab./ano;
- 296: número de edifícios públicos objeto de retirada de amianto. Há 3.855 edifícios públicos com amianto;
- 15,5%: grau de autoaprovisionamento das leguminosas secas. Em 2018, o país só garantiu a produção de 15,5% do consumido em Portugal (recomenda-se que o seu consumo represente 4% da ingestão diária de energia);
- 33,5 milhões de litros: óleo de palma utilizado em Portugal no gasóleo rodoviário como biocombustível (esta matéria-prima promove a destruição da floresta tropical, colocando em causa ecossistemas sensíveis);
- 91 ktep: energia a fornecer por sistemas solares térmicos. A meta PNAER 2020 é 108 ktep;
- 456: espécies ameaçadas de extinção em Portugal, incluindo plantas;
- 87%: área florestal pertencente a proprietários privados. São 400 mil e a dimensão média das propriedades é inferior a um hectare em dois terços do país, principalmente a norte do rio Tejo.
“Emergência em câmara lenta”
Em Dia Mundial do Ambiente, a Zero alerta ainda para a emergência das alterações climáticas que, ao contrário da pandemia, têm efeitos lentos e a longo prazo.
“As alterações climáticas são uma emergência em câmara lenta”, destaca Francisco Ferreira.
“Se conseguimos mobilizar recursos para a pandemia, temos de estar conscientes que, em relação ao clima, a dimensão da catástrofe é muitíssimo maior, só que mais lenta. E não é fácil encontrarmos – eu diria que é mesmo impossível encontrarmos – uma vacina ou um medicamento que resulte num prazo relativamente curto”, sustenta.
“O clima, para voltar depois atrás em termos de temperatura, demora uma a duas décadas”, sublinha o ambientalista.
Francisco Ferreira diz que é urgente evitar catástrofes futuras no clima, a bem de todos.