Não há recursos. Faltam professores para a educação especial e o número de assistentes operacionais é também insuficiente.
O retrato é feito por mais de 80% dos diretores dos agrupamentos e escolas, num inquérito que a Fenprof divulga esta segunda-feira.
Para além da escassez de profissionais, as conclusões apontam para o desrespeito pelos limites legais quanto ao número de alunos por turma e falta de formação do pessoal auxiliar.
Já os encarregados de educação alertam para sérios prejuízos na evolução dos alunos com necessidades especiais.
É o caso de Dídia Lourenço. A presidente da Associação Bengala Mágica tem um filho invisual de oito anos e fala em sérios prejuízos.
“Está a regredir muito na escola e eu acho que, neste momento, a falta de apoio está a fazer com que ele desmotive e isso deixa-o muito frustrado, muito inseguro. Por vezes chora; cada vez que que vai escrever algumas palavras e dá erros, chora”, conta à Renascença.
Dídia Lourenço está preocupada e dá exemplos do que está a correr mal com o filho.
“Como não tem acesso aos conteúdos em braille, ele está a ter pouco contato com a escrita. E, portanto, a palavra escrita está a deixar de fazer sentido para ele. Para não falar na matemática, porque nesta nestas férias trouxe trabalhos para fazer em casa, contas de somar e de subtrair, e ele tem que fazer tudo mentalmente, porque não é possível sem ajuda de alguém que saiba transferir para o papel, aquela informação, as contas”, exemplifica.
Sara Pólvora tem um filho de seis anos com autismo que frequenta uma escola de ensino estruturado, ou seja, com respostas especificas para a inclusão, mas não é isso que está a acontecer.
Esta mãe diz à Renascença que recebeu “um e-mail a dizer que todas as crianças do primeiro ano iam a uma visita de estudo e que o Afonso, bem como todas as crianças especiais, não iam, porque não havia recursos humanos”.
“Isso é uma situação muito grave, é uma situação de exclusão”, lamenta.
Segundo Sara Pólvora, a entrada de Afonso na escola não está a correr como esperado. Faltam duas professoras de educação especial, o que pode pôr em causa o que pais já fizeram.
“Nós fizemos um investimento de dois anos de terapia. Uma terapeuta só para o Afonso, eram 1.140 euros por mês e o Afonso desenvolveu imenso. Entretanto, o hospital, o centro de desenvolvimento, disse que ele devia ir novamente para a escola e ser integrado. E a verdade é que, depois, a escola não tinha os recursos, sentimos que não evoluiu”, declara.
No entender desta mãe as duas professoras que faltam na escola podiam fazer a diferença na educação do filho.
"Não há lugar para todos"
Numa reação às conclusões do inquérito das Fenprf, o presidente da Associação de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ADAEP); Filinto Lima, apela ao Governo que "invista na educação especial, um ramo no qual escasseiam professores e também funcionários e terapeutas".
"É necessário que o futuro Governo abra mais vagas, contrate mais professores e terapeutas" até porque, "não faltarão professores, mas sim investimento do Governo", diz o responsável à Renascença.
Filinto Lima adianta que o número de alunos com necessidades especiais "está a aumentar, sem que, por outro lado, haja um aumento de recursos humanos, quer ao nível dos professores, quer ao nível dos técnicos especializados".
"Neste momento, não há lugar para todos nestas instituições", sublinha.
[notícia atualizada às 12h00 com reação da Associação de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas]