Mais de metade dos médicos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) trabalham sem contratos de exclusividade, dado que leva o presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH) a declarar que não há falta de médicos em Portugal.
"O problema não é a falta de médicos em Portugal, mas a falta de condições de atratividade para fixá-los no SNS", diz Alexandre Lourenço à Renascença.
De acordo com os números da Administração Central dos Sistemas de Saúde (ACSS), citados pelo Jornal de Notícias, dos mais de 13 mil médicos especialistas existentes nos hospitais público, só 42,9% trabalham a tempo inteiro no SNS.
O presidente da APAH defende que o país precisa de hospitais "com equipas que tenham profissionais em número suficiente e onde não ocorram faltas de material, algo que é muito recorrente".
Alexandre Lourenço considera que é também inportante promover mudanças no sistema de remunerações: "No setor público, os médicos ganham à hora, à semelhança do que acontece com a generalidade dos funcionários públicos. Seria interessante incluir componentes de pagamento por desempenho que os médicos que acumulam atividade entre o setor público e o setor privado conseguem obter nos hospitais fora do SNS."
Situação é mais preocupante fora das grandes cidades
A falta de médicos nos hospitais do SNS está a provocar constrangimentos, em alguns casos sérios, levando, inclusivamente ao encerramento de serviços até que sejam preenchidas vagas.
Embora reconheça que são situações pontuais, Alexandre Lourenço conclui que esta ausência de profissionais em dedicação plena "traz vários problemas do ponto de vista da organização, seja na elaboração das escalas, seja na sobrecarga de trabalho".
O problema é sentido de forma muito particular nas regiões mais periféricas "que padecem de uma incapacidade generalizada de atrair profissionais médicos. E isso vê-se no número de vagas que são criadas e que ficam por preencher".
Em julho passado, o Ministério da Saúde admitiu estudar o regresso à dedicação exclusiva dos médicos ao SNS. O presidente da APAH contrapõe e considera preferível "apostar na valorização das chefias intermédias e na disponibilidade dos médicos para que se dediquem, efetivamente, à atividade clínica, em vez de estarem perdidos em atividades administrativas".