O empresário José António dos Santos, constituído arguido na operação Cartão Vermelho, renunciou esta quinta-feira ao cargo de "chairman" da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo da Lourinhã por entender que a "instituição em causa deve ser protegida".
"Sempre manifestei a vontade de, atingida a idade de 80 anos, terminar o meu mandato como presidente do Conselho de Administração não-executivo da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo da Lourinhã", indicou, salientando que "no decurso dos eventos que vieram a público" tomou "na semana passada a decisão de antecipar para este momento o termo" do seu mandato, "que ocorreria em outubro deste ano".
"Assim sendo, remeti nesta data ao órgão competente da CCAM [Caixa de Crédito Agrícola Mútuo Lourinhã] a comunicação da minha renúncia ao cargo, com efeitos imediatos", referiu numa nota a que a Lusa teve acesso.
"Sublinho que o fiz neste momento, na sequência da decisão já anteriormente tomada. Tenho a consciência tranquila e a plena convicção de que nenhuma atuação censurável me pode ser imputada", garantiu.
"Não receio qualquer juízo sobre a minha conduta ou idoneidade, mas entendo que a instituição em causa deve ser protegida face a qualquer perturbação ou instabilidade que o atual contexto pudesse vir a causar", rematou o empresário.
O Banco de Portugal (BdP) disse esta quinta-feira à Lusa que está a avaliar "toda a informação" relativa a José António dos Santos como "chairman" Crédito Agrícola Mútuo da Lourinhã.
"Toda a informação está a ser devidamente ponderada pelo Banco de Portugal no exercício das suas competências", disse fonte oficial em resposta à Lusa, quando questionada sobre se o Banco de Portugal está a reavaliar as condições do empresário José António dos Santos para continuar presidente da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo da Lourinhã.
Também esta quinta-feira, a Caixa Central do Crédito Agrícola anunciou que ordenou à comissão de avaliação interna da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo da Lourinhã a reavaliação da idoneidade de José António dos Santos. As conclusões serão enviadas ao Banco de Portugal.
José António dos Santos, conhecido por "Rei dos Frangos", é fundador do Grupo Valouro-Avibom e maior acionista individual da SAD do Benfica (com 16%). Foi constituído arguido no âmbito da investigação criminal Cartão Vermelho e objeto de diversas medidas de coação.
Entre os arguidos do processo estão Luís Filipe Vieira (72 anos), que está em prisão domiciliária até à prestação de uma caução de três milhões de euros e proibido de sair do país, Tiago Vieira, filho de Luís Filipe Vieira, e o agente de futebol e advogado Bruno Macedo.
A investigação envolve negócios com prejuízos para o Estado, SAD do clube e Novo Banco.
Segundo documentos relativos à investigação do Ministério Público, a que a agência Lusa teve acesso, Vieira terá prejudicado o Novo Banco em cerca de 82 milhões de euros e ter-se-á apropriado de cerca de oito milhões de euros de uma empresa sua --- a Imosteps - que vieram mais tarde a ser compensados pelo Fundo de Resolução ao Novo Banco.