Os “perdedores” da sociedade devem ser compensados e as reformas realizadas pelos Governos premiadas para evitar novos Trump e “Brexit”, defende o economista francês Philippe Aghion, professor em Harvard e assistente no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla inglesa).
A possibilidade de os italianos chumbarem a reforma constitucional no referendo de domingo vai ganhando força, o que pode significar a saída de Itália do euro. Este é o risco que a Europa corre quando se esquece dos “perdedores”, alerta o reputado economista em entrevista à Renascença.
“Vocês querem compensar os perdedores. O problema é: quem não tem educação não tem esperança no futuro. Margaret Tatcher e Ronald Reagen entenderam que tinham que fazer reformas estruturais, mas operaram o doente sem anestesia, esse é o problema. Não quiseram saber dos perdedores. Agora têm que enfrentar o problema de frente”, afirma o professor.
“Os perdedores deram-lhes Trump nos Estados Unidos e ‘Brexit’ do Reino Unido. Têm que assegurar que investem em educação. Admiro os países na Europa que decidem que a educação deve ser de qualidade e para todos, como na Finlândia, na Escandinávia. É importante, quando ficam desempregados, terem acesso a subsídios, formação, ajuda para encontrar novo emprego”, defende.
Philipe Aghion elogia ainda as reformas do primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, e lamenta que não tenha recebido mais apoio.
“Devem premiar quem faz reformas. Renzi fez um trabalho muito corajoso com a reforma laboral. Ele precisou de ajuda para lidar com o problema do malparado nos bancos. Ele devia ter sido ajudado. Ele pode perder o referendo como resultado disso e isso é terrível, quando não se encorajam as reformas. Concordo com a Alemanha quando é dura com a França quando não faz reformas, quando são executadas devem ser encorajadas e premiadas. Mesmo que não optemos pelo federalismo, somos uma Europa de países e nações e nações devem encorajar-se umas às outras em acertarem com o pacote de políticas adequado”, defende o economista francês.
Segundo Philipe Aghion, o problema de países como Itália e Portugal é o fraco crescimento e a culpa é a cronologia das decisões tomadas pelas autoridades, que decidiram bem mas tarde demais.
“Europa fez tudo ao contrário”
O professor em Harvard aponta o bom exemplo dos Estados Unidos na forma como enfrentou e ultrapassou a crise.
“Os Estados Unidos fizeram testes de stress nos bancos, lidaram com o problema dos empréstimos maus, fizeram a desalavancagem, mas sem recessão, porque eles tinham os estímulos fiscais adequados. E tinham Obama a ajudar a General Motors, e o meu amigo Bern [Bernanke, na altura presidente da Reserva Federal] que ajudava na flexibilização”, argumenta.
Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, a Europa não optou pela flexibilidade e “muito rapidamente começaram com restrições orçamentais”.
“Fizeram tudo ao contrário. Fizeram os testes de stress aos bancos muito tarde, e fizeram tudo de pernas para o ar. Isso é uma parte da história e por isso é que a Europa não está a crescer tão rapidamente”, resume o professor.
A Renascença falou com o economista Philipe Aghion na semana Europeia das PME, que este ano decorreu em Bratislava, capital da Eslováquia, que está agora com a presidência da União Europeia.