Augusto Inácio mostra-se cético quanto à conclusão da Primeira Liga e, em entrevista a Bola Branca, considera que a prova não deveria ser retomada. A Liga já anunciou que as dez jornadas que estão por disputar começam a jogar-se a 4 de junho.
Para que tal suceda é necessária a validação por parte da Direção-Geral de Saúde, que se baseará na evolução da pandemia de Covid-19 em Portugal. Clubes e todos os intervenientes terão de cumprir um rigoroso protoloco sanitário para prevenir o risco de contágio.
“Sinceramente, creio que não há condições para o recomeço do campeonato", começa por dizer Inácio. O treinador, de 65 anos, um dos mais experientes em atividade, admite que a decisão se prende com razões económicas.
"Não me parece que esteja salvaguardada a saúde dos jogadores. A decisão de o campeonato se ter de decidir com as jornadas que faltam talvez não passe por razões desportivas, mas por razões económicas. Mas tenho muitas dúvidas que o campeonato se conclua até ao fim”, assume.
Decisão incoerente na Segunda Liga
A Liga está a agendar as dez jornadas que restam da competição a partir de 4 de Junho. É a única competição programada para chegar ao fim. A Segunda Liga terminou prematuramente, numa decisão criticada por Augusto Inácio.
“Não é justo que se cataloguem os profissionais. Parece que há profissionais na Primeira Liga e não há na Segunda. São todos profissionais e por essa razão as decisões são incorretas e incoerentes", observa.
A Liga determinou as promoções da Nacional e Farense à Primeira Liga, e as descidas de Cova da Piedade e Casa da Pia ao Campeonato de Portugal. Inácio olha, em particular, para as subidas e entende que, "embora [Nacional e Farense] tenham mérito pelos lugares que ocupam, não se pode dizer que Feirense, Mafra ou Estoril não tivessem ainda possibilidades de conseguirem subir".
Acho que a Segunda Liga deveria terminar da mesma forma como irá ser feito na Primeira. E não me venham dizer que é por causa dos estádios, porque se há estádios para a Primeira também há para a Segunda. Não houve coerência na decisão”, reforça, nesta entrevista à Renascença.
Fim da aventura no Avaí
Augusto Inácio regressou a Portugal em meados de fevereiro, depois do fim da aventura no Avaí do Brasil. Na presente temporada de 2019/20, o treinador orientou duas equipas: Desportivo das Aves e Avaí.
O projeto no futebol brasileiro terminou prematuramente por alegado incumprimento das promessas do emblema de Florianópolis.
“O que me foi dito, prometido e projetado no início da temporada não foi cumprido. Não tive tempo para que o meu trabalho tivesse sucesso, embora tivesse em marcha algumas mudanças que o clube teria de ter principalmente a nível dos jogadores e da forma como iríamos jogar. [Regresso ao Brasil] Depende do clube que me convidar e do que são os projetos, porque se pensarmos só no imediato as coisas são muito difíceis e não há quem resista”, sustenta.
Futuro em aberto
Augusto Inácio nos últimos anos tem alternado tarefas, como treinador ou dirigente. O futuro imediato não está definido.
“Vivo o meu dia a dia, consoante o que a vida me proporciona e não faço projetos à la longue. Tanto pode acontecer continuar como treinador, como voltar a ser dirigente. Depende dos projetos dos clubes e decidirei o que é melhor para mim”, argumenta.
O técnico, de 65 anos, foi campeão nacional pelo Sporting, em 1999/00, e venceu a Supertaça relativa a essa temporada, no início de 2000/01. Venceu a Taça da Liga, na época 2016/17, pelo Moreirense, e foi campeão da Segunda Liga, pelo Beira-Mar, em 2005/06.
Na já longa carreira, que começou nos juniores do FC Porto, Inácio foi adjunto dos dragões e treinador principal de Rio Ave, Felgueiras, Marítimo, Chaves, Sporting, V. Guimarães, Belenenses, Al Ahli (Qatar), Beira-Mar, Ionikos (Grécia), Foolad (Irão), Interclube (Angola), Naval, Leixões, Vaslui (Roménia), Moreirense, Zamalek (Egito), Aves e Avaí (Brasil).
Foi diretor geral do futebol do Sporting entre 13/14 e 14/15, com Bruno de Carvalho como presidente.