"Bom descanso, mais força à CDU para valorizar o trabalho e os trabalhadores”. A frase era repetida vezes sem conta por João Ferreira à medida que as centenas de trabalhadores da Autoeuropa saiam de mais uma jornada de trabalho.
O eurodeputado e recandidato ao Parlamento Europeu distribuiu os panfletos de propaganda e ainda ouviu lamentações.
“Como é que posso votar no domingo?”, questionou um trabalhador. A pergunta tinha claramente um objetivo: mostrar o descontentamento com os novos turnos. Depois rematou. “Eu só vou aceitar um papel desses quando vierem cá ao domingo. E onde é que vocês estavam quando nós estivemos em greve?”. Rapidamente João Ferreira respondeu que o seu partido lutou para que não trabalhassem ao domingo.
O trabalho ao domingo é exatamente o ponto de maior discórdia no novo acordo laboral na fábrica de Palmela, em vigor desde o ano passado. João Ferreira sabe disso e recorda mesmo que o partido não vem à Autoeuropa apenas quando há eleições.
Quanto à questão do trabalho por turnos é um dos desafios que o eurodeputado apresenta soluções que devem ser discutidos ao nível europeu.
“Não é aceitável que com o progresso científico e tecnológico as pessoas passem a viver pior do ponto de vistas das condições que têm para compatibilizar a sua vida profissional com a familiar. Queremos instituir à escala europeia do princípio do não-retrocesso para haver avanços do ponto de vista civilizacional.”
As negociações para o novo horário de trabalho na Autoeuropa em 2017 não foram fáceis. Questionado se foi uma derrota para a CDU a implementação do novo horário de trabalho, João Ferreira foge ao tema e sublinha que é preciso continuar a lutar por um melhor modelo de sociedade.
“Se não está tudo conquistado ainda é porque a solução é continuar a lutar em torno do que se considera serem reivindicações justas. Pela nossa parte é nossa intenção continuar a fazer o que temos feito, que é ter uma intervenção institucional, seja na Assembleia da República, seja no Parlamento Europeu.
São reivindicações que estão associadas a avanços na melhoria das condições de vida destes trabalhadores, mas estão também associadas do ponto de vista civilizacional, da sociedade que queremos e da sociedade que defendemos. Não defendemos uma sociedade em que a precariedade e a instabilidade na vida dos trabalhadores estão generalizadas. Isto não é um modelo de sociedade que nós possamos aceitar e por isso lutamos por outro”, rematou o candidato da CDU à entrada da Autoeuropa, onde esteve exatamente quinze minutos antes Marisa Matias.
A candidata do Bloco de Esquerda teve mais sorte, não ouviu os lamentos de quem iniciava um novo turno. No fim guardou as bagagens e não fez declarações aos jornalistas.