​Fuga de Vale de Judeus mostra "sinais de decomposição do Estado"
13-09-2024 - 15:47
 • Eduardo Oliveira e Silva, Luís Marinho, Luís Marques e Rui Pêgo

A ida da PGR ao Parlamento foi um "não acontecimento", o ridículo veio ao de cima no debate presidencial nos EUA, o Orçamento do Estado parece uma novela e a fuga de Vale de Judeus também já conta com vários episódios. Estas são as Novas Crónicas da Idade Mídia desta semana.

Volta a falar-se em crise na Comunicação Social, agora por causa das contas de 2023. Diz o +Marcas, do Eco, que cita o Portal da Transparência da ERC, que “apenas 3 das 13 empresas de Media não cotadas em bolsa, têm resultados positivos - MediaLivre, Bauer Media Audio Portugal e RTP”, sendo que a empresa pública não deverá ser considerada neste quadro porque não vive exclusivamente do mercado. Público e Global Notícias são as empresas em pior situação.

É em momentos de crise, todos o sabemos, que se constroem soluções de futuro. E o setor tem dado provas inequívocas da sua capacidade de resistência. O Público lançou o Público Brasil, produzido por um grupo de 6 jornalistas brasileiros que parece ter alavancado o crescimento digital do jornal. É uma boa ideia, com um público-alvo próximo de um milhão de pessoas, entre imigrantes legais, ilegais e com várias nacionalidades europeias (portuguesa, espanhola, italiana, designadamente), com excelentes condições de sucesso.

O Expresso estreou um novo formato, com mais um caderno “Ideias”, com a mesma qualidade de sempre.

A TVI lançou a sua nova temporada, comunicando o regresso de um dos grandes pivots da televisão portuguesa, Mário Crespo. A forma como foi anunciado este regresso criou a expectativa que pudéssemos estar perante a versão portuguesa do Daily Show, de Jon Stewart. Mas não. Sete anos depois de ter abandonado a atividade, Crespo regressa para comentar as eleições americanas. O Now segue o seu caminho, com políticos a entrevistar políticos. Costa já falou com Barroso, seguem-se Vitorino, Centeno e Marcelo.

A PGR foi finalmente ao Parlamento para dizer pouco. Nenhum líder parlamentar esteve presente, desvalorizando a presença de Lucília Gago. Honra seja feita a Aguiar Branco, o presidente da AR, que assistiu à audição. As escutas vão continuar. Um cidadão ser escutado durante 4 anos, “é uma excecionalidade”, explica a Procuradora-Geral. Era desejável que a exceção não se transformasse na regra. A expectativa era tanta, que deu em nada. A audição foi um não acontecimento.


Todos os analistas e as sondagens são consensuais: Kamala ganhou o debate a Trump, o que sendo importante para a campanha da atual vice-presidente não resolve, longe disso, o escrutínio de novembro. Trump cobriu-se mais uma vez de ridículo com a triste história de que os imigrantes andam a roubar cães e gatos para comerem e foi imediatamente desmentido por um dos pivots que teve o fact check do tema em direto. Vamos ver se Kamala ganhou novo fôlego em Filadélfia.

A cerca de um mês do início da discussão no Parlamento, já ninguém aguenta a novela interminável sobre o Orçamento do Estado. Os sucessivos episódios descredibilizam a política e os partidos políticos. Quem sairá mais a perder parece serem as oposições. Os ziguezagues do Chega e do PS, aparentemente, vão correr-lhes mal. Marcelo pressiona um entendimento na AR e convoca o Conselho de Estado para 1 de outubro, duas semanas antes do início da discussão das contas do Estado.

Vale de Judeus tem sido um caso de excelente trabalho de todos os Media: rádios, televisões, jornais, operações digitais. Cada nova edição traz sempre novos detalhes da fuga. Acrescenta, portanto. Desta vez, as televisões não se ficaram pelo repórter postado à frente dos portões da prisão, sem nada para dizer e ainda menos para mostrar. Também houve, claro. Mas houve investigação, cruzamento de factos, fontes diversificadas.

O Sindicato dos Guardas Prisionais aproveitou para cavalgar o acontecimento, com o seu presidente, Frederico Morais, a desdobrar-se pelos diferentes canais de televisão, explicando num deles que tinha de sair para ir ajudar os colegas a perseguir os fugitivos para logo a seguir aparecer num canal concorrente a repetir o que já havia dito. Caricato.

Muito atacada por não falar, Rita Judice, a ministra da Justiça, falou no tempo próprio, sem precipitações, com informação substantiva. A ministra veio dizer o que tinha de ser dito. Sérgio Sousa Pinto (CNN, 10) disse, sem rodeios, o que todos sentimos: o episódio de Vale de Judeus é mais um dos “sinais de decomposição do Estado”.

Em suplemento ao programa, nos Grandes Enigmas, o que se passa com os sistemas de câmaras instalados pelo Estado? O que vai passar-se com o Almirante das vacinas? A PGR fez declarações sexistas? No regresso às aulas “entrar a pés juntos”? O que se passa com alguns publicitários?