Caso das Gémeas. Pedido de consulta a diretora de Pediatria feito a mando de Lacerda Sales
03-12-2024 - 14:53
 • Filipa Ribeiro

A diretora de Pediatria do Santa Maria diz que telefonema que recebeu da secretária pessoal de Lacerda Sales foi feita "em nome do secretário de Estado". Ana Isabel Lopes fala em cenário "atípico" que a deixou desconfortável. Também na Comissão Parlamentar de Inquérito a responsável pela triagem de consultas diz nunca ter recebido o pedido para as gémeas no sistema e que "à luz das normas de hoje", o regulamento "não foi cumprido".

A diretora do serviço de Pediatria do Hospital de Santa Maria confirma ter recebido um contacto telefónico de Carla Silva - secretária pessoal de Lacerda Sales - que indicou que o pedido estava a ser feito a mando do ex-secretário de Estado da Saúde.

Ana Isabel Lopes foi ouvida esta terça-feira na Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso das gémeas onde afirmou que a informação veiculada por Carla Silva era de que fazia o pedido de consulta de neuropediatria " em nome do secretário de Estado".

A diretora do serviço de Pediatria garantiu que "nunca tinha tido uma solicitação desta natureza" falando de uma situação "atípica".

Apesar de considerar o pedido "atípico" , Ana Isabel Lopes disse que como médica "não podia ignorar que se tratava de uma solicitação de natureza clínica relativa a duas crianças com uma doença grave, progressiva, letal" acrescentando que "não podia ignorar a missão assistencial" do Departamento de Pediatria do Santa Maria.

A médica garantiu que "não houve injustiça, nem prejuízo para terceiros" com o tratamento das gémeas, uma vez que "não havia lista de espera".

Assim que recebeu o pedido de consulta a diretora de Pediatria deu conhecimento do caso ao diretor clínico do Hospital, Luís Pinheiro, que lhe deu "uma resposta positiva, no sentido de concordância e autorização para a marcação da consulta solicitada".

A diretora do serviço de Pediatria garante ainda que "todo o processo de colocação indicação, aprovação e validação (do tratamento) passou pelo Conselho de Administração do Hospital de Santa Maria"- na altura presidido por Ana Paula Martins (atual ministra da Saúde).

Ana Isabel Lopes adiantou que o processo institucional obrigada à validação do Conselho de Administração uma vez que "o médico coloca a indicação para instituição da terapêutica numa plataforma eletrónica que é depois validada pela diretora de serviço, pelo presidente da Comissão de Farmácia e Terapêutica também valida e pelo diretor clínico" indo depois a Conselho de Administração".

Apesar de confessar que não se sentiu "confortável" com o pedido, a médica defendeu ainda que a sua posição "clínica" prevaleceu à situação "excecional" e esclareceu que a consulta acabou por ser marcada por Teresa Moreno a neuropediatra que tratou as crianças. Ana Isabel Lopes não concorda com a tese de que foi ignorado o procedimento para o agendamento da consulta, uma vez que foi ignorado o processo de triagem.


Consulta das crianças não passou pela triagem do Santa Maria

As consultas das gémeas luso-brasileiras no Hospital de Santa Maria não passaram pela equipa de triagem. A garantia foi deixada na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) ao caso por Ana Moreira de Sá, uma das responsáveis da equipa de triagem da unidade hospitalar.

A médica começou a audição por afirmar que não compreendeu o porquê de ter sido chamada, garantindo que "nenhum dos médicos triadores tiveram responsabilidade" na marcação das consultas. Ana Moreira de Sá disse que, após uma verificação, concluiu que as "consultas não tiveram pedido no sistema".

A responsável na equipa de triagem contraria desta forma a informação adiantada à CPI ao caso das gémeas pela administração do Hospital de Santa Maria. "A resposta do conselho de administração é geral", disse.

De acordo com Ana Moreira de Sá, "hoje em dia há um cumprimento mais rigoroso" sobre a entrada dos pedidos de consulta no sistema de triagem. No entanto, a médica realça que "em todos os serviços sempre foi possível que algumas consultas fossem marcadas sem passar pelo sistema de triagem", acrescentando que há "consultas que passam e são marcadas diretamente".

Questionada pelo grupo parlamentar do PSD, a médica refere ainda assim que "à luz das normas de hoje não foi cumprido" o procedimento definido para a marcação das consultas.

Ana Moreira de Sá garante ainda nunca ter ouvido que "a marcação tinha sido feita por influência do Presidente da República". A médica disse apenas que foi comentado que "teria havido alguma pressão para a marcação" sem saber de quem.

Apesar do intervalo e da pausa nos trabalhos, o nome do ex-secretário de Estado da Saúde não foi esquecido. António Lacerda Sales foi mais uma vez apontado por ter pedido a consulta para as crianças.

As audições sobre o caso das Gémeas continuam na quinta-feira com a audição de Vítor Almeida - um dos diretores do Hospital Lusíadas, onde foi marcada uma primeira consulta das gémeas luso-brasileiras.

[Notícia atualizada às 17h37 de 3 de dezembro de 2024 com mais detalhes]