O presidente da Associação Comercial do Porto reage com “alguma surpresa” à escolha de Alcochete como solução mais viável para o futuro aeroporto da região de Lisboa.
Esta semana, a comissão técnica independente presidida por Maria do Rosário Partidário apontou o Campo de Tiro de Alcochete como a solução que apresenta mais vantagens para receber a nova infraestrutura aeroportuária.
O relatório preliminar de Análise Estratégica considera Vendas Novas como outra opção considerada viável. Todas as outras foram riscadas do mapa.
No habitual espaço de comentário aos sábados, no programa ‘Manhã, Manhã’, da Renascença, Nuno Botelho diz não pôr em causa a competência e a independência da comissão técnica que analisou as possíveis localizações para o novo aeroporto e admite que "o estudo assenta em critérios técnicos muito válidos”.
O problema, diz o jurista e empresário, é a realidade do país. “Estes critérios seriam válidos e excelentes em num país que não o nosso. Ou seja, um país com uma capacidade de endividamento que não é a nossa; com uma capacidade de criação de riqueza que não é nossa; com uma capacidade de investimento em infraestruturas que não é nossa”.
O custo de um eventual futuro aeroporto em Alcochete rondará os 8.000 milhões de euros, sem dinheiros públicos e com financiamento quase exclusivo do Plano de Recuperação e Resiliência.
Ainda assim, Nuno Botelho critica a exclusão da opção Montijo, “desde logo, porque é a opção mais barata... não teria custos para o contribuinte; é a opção mais rápida e a que é mais próxima de Lisboa; é, também, a que tem a melhor relação custo-benefício... mesmo ambientalmente”.
Seja como for, o trabalho da comissão para o novo aeroporto de Lisboa “é uma recomendação” e não uma decisão final que só poderá ser tomada pelo próximo Governo que, “com base naquilo que foi apresentado, terá a capacidade de decidir. Por isso, vamos ter uma campanha eleitoral em que os principais partidos poderão dizer o que querem fazer”.
Regresso a Alcochete foi perda de tempo?
Nuno Botelho recusa a ideia de mais uma década perdida, tendo em conta que a hipótese Alcochete, agora validada pela comissão técnica para o futuro aeroporto de Lisboa, já tinha sido defendida em janeiro de 2008 pelo, então, primeiro-ministro José Sócrates.
"Acho que não foi uma perda de tempo, porque a metodologia até é correta”, argumenta.
O problema é que “estamos a trabalhar sobre um processo que já dura há demasiado tempo e se esta metodologia tivesse sido adotada no início, há muito que teríamos tido a obra já executada”, remata.
Norte da semana
Jornalismo de investigação. “Temos o caso da investigação do lítio e, agora, o caso das gémeas brasileiras. É importante que haja jornalismo de investigação, que escrutine, que vá atrás da história. Desse ponto de vista, é de enaltecer aquilo que tem sido feito”. Falando, em particular, dos dois momentos em que o Presidente da República nega quaisquer interferências no caso das gémeas luso-brasileiras, Nuno Botelho reconhece que “este capítulo não tem boas consequências para a imagem do Presidente da República”. No entanto, a ter havido uma interferência neste caso, Nuno Botelho admite que tal possa ser da exclusiva responsabilidade do filho do Presidente, que “não é o Presidente da República”. Questionado sobre as condições para Marcelo continuar no cargo, o presidente da Associação Comercial do Porto diz ver o Chefe do Estado como uma "pessoa séria”. "Não podemos entrar numa espiral de ataque às instituições só porque há um ‘diz que diz’”.
Desnorte da semana
Greve no Jornal de Notícias. “É o único jornal diário editado fora de Lisboa e é com grande pena que vimos este jornal não ser editado na passada quinta-feira. Faz-me lembrar o que aconteceu em 2005 com o Comércio do Porto. Esperemos que isto não traga essas consequências, nem tenha esse desfecho e que haja uma resposta. Não há democracia sem jornalismo livre, independente e corajoso”.