No dia em que a Pordata revela a situação precária em que vivem os migrantes em Portugal - um terço em risco de pobreza - com uma taxa de desemprego que é mais do dobro da média nacional e com uma entrada recorde imigrantes, em 2022 foram 118.000, o comentador da Renascença Henrique Raposo salienta a importância dos imigrantes para o país, mas aponta alguma preocupação em relação à falta de integração de alguns casos.
"Preocupam-me muitas coisas, mas, sobretudo, já que vamos entrar em período eleitoral, é deixar bem vincado uma coisa: nós precisamos de imigrantes, independentemente do que alguns partidos - cresçam ou não - digam. Se os brasileiros desaparecessem hoje, amanhã o país não funcionava. Nós precisamos de imigrantes. Somos um dos países mais envelhecidos do mundo - o terceiro ou o segundo - a par da Itália e do Japão", argumenta Henrique Raposo.
O comentador relembra ainda que, "neste século, não tivemos filhos em quantidade suficiente, porque não quisemos e não pudemos".
"O valor central de uma democracia liberal é fazer a síntese - o que os americanos chamam "melting pot" - com outras pessoas de outras paragens. O melhor exemplo que tenho disso é que quando vou buscar a minha [filha] mais nova á escola, já 20% dos alunos devem ser estrangeiros - africanos, asiáticos, brasileiros, ucranianos - e, à porta da escola, somos todos iguais. Somos todos país, ricos e pobres. Há uma coisa curiosa nas escolas públicas portuguesas em Lisboa: junta brasileiros ricos e pobres, que no Brasil nunca se juntariam e que em Lisboa conseguem conseguem juntar-se. É muito curioso. E daqui a dez anos, aqueles os miúdos são todos portugueses e não interessa a sua origem", afirma Henrique Raposo.
O comentador destaca, contudo, a sua preocupação em relação à falta de integração de alguns jovens migrantes.
"O que me preocupa é que ao lado da escola, há casas que são T2 ou T3, onde vivem 20 pessoas. São sempre rapazes, na flor da idade, que vivem todos juntos. Não se integram, não se misturam e esse, para mim, é um grande problema", defende.
"Além de viverem em condições precárias que são inaceitáveis, em condições de pobreza que me chocam quando alguma televisão entra naqueles prédios e [o] descobre, há outro problema... Estamos a integrar estes miúdos, estes jovens, nos nossos valores? Ou seja, no respeito pelas mulheres, no respeito pelos homossexuais e por aí fora?", aponta o comentador.
"Não se não pode criar bairros, ruas, prédios que vivem à margem de valores fundamentais para nós. E, para mim, o ponto fundamental é mulheres e homossexuais. Porque não podemos ser politicamente corretos, muitos desses jovens vêm de países muçulmanos que têm uma visão completamente retrógrada da mulher e do homossexual".
Atualmente, são quase 800 mil os estrangeiros a residir em Portugal, mas um em cada três vive em risco de pobreza ou exclusão social. Em média, recebem quase menos 100 euros por mês de salário que os cidadãos nacionais.
A propósito do Dia Internacional dos Migrantes, que se comemora esta segunda-feira, a Pordata traçou o perfil da população estrangeira a viver em Portugal, salientando que, nos últimos 15 anos, cerca de meio milhão obtiveram nacionalidade portuguesa.
Segundo dados do Eurostat, Portugal é o 10.º país da União Europeia com menor proporção de imigrantes.