O ministro dos Negócios Estrangeiros português garante que não há problemas de segurança em Portugal com a possível participação chinesa na entrada do 5G, através da Huawei.
Os Estados Unidos temem, contudo, que este sistema possa pôr em causa a segurança interna e isso mesmo foi dito, esta quinta-feira, em Lisboa, pelo secretário de Estadio norte-americano, Mike Pompeo, ao ministro português dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.
“Todos temos de avaliar cuidadosamente os riscos do investimento chinês nestas áreas estratégicas e sensíveis. O Partido Comunista Chinês não vai hesitar em utilizar ferramentas para oprimir os povos do mundo. Queremos garantir que a economia chinesa nunca será usada para suprimir vozes democráticas em qualquer parte do mundo, aqui em Portugal, na Europa ou nos EUA”, afirmou Pompeo.
Em resposta a Mike Pompeo, Augusto Santos Silva disse que Portugal está a trabalhar no âmbito da União Europeia para avaliar todos os riscos e vulnerabilidades relacionadas com o lançamento das redes 5G.
“Iremos respeitar todos os resultados dessa avaliação para garantir que a transição digital da nossa economia, possa ser feita lado a lado com o fortalecimento da nossa segurança nacional e obviamente com os nossos aliados”, disse.
O ministro português garantiu ainda que Portugal tem vários investimentos com chineses, até agora sem qualquer problema e que as três operadoras de telecomunicações existentes em Portugal cumprem a legislação. “Temos, neste momento, três grandes operadoras de telecomunicações em Portugal, todos têm cumprido com a legislação portuguesa e europeia em matéria de segurança nacional e assim esperamos que continue a ser.”
O ministro dos Negócios Estrangeiros referiu-se, neste ponto, à expansão do porto de Sines que será um processo "aberto, transparente, competitivo e de acordo com a legislação".
"Esperamos que muitas companhias, incluindo dos EUA, se apresentem a esse concurso", disse.
Cooperação na defesa e segurança
No encontro, que Mike Pompeo e Augusto Santos Silva qualificaram de "muito produtivo", foram abordados vários outros aspetos da relação bilateral, designadamente, segundo o ministro português, a "cooperação vital no domínio da defesa e segurança".
"Falámos das Lajes, de projetos de segurança marítima e de rotas marítimas em África, e, claro, questões internacionais, em que temos posições convergentes", entre as quais a América Latina, concretamente a situação na Venezuela, onde Portugal e Estados Unidos defendem "uma transição política pacífica".
Também a relação com África e a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) constaram da agenda, com Augusto Santos Silva a congratular-se com a candidatura norte-americana ao estatuto de observador da organização.
"Esta reunião reforçou a relação" entre os dois países, afirmou Mike Pompeo, evocando a presença nos Açores, onde existe "o posto consular mais antigo", a importante comunidade luso-americana residente nos Estados Unidos e a cooperação em matéria de defesa, nomeadamente em teatros de operação internacionais.
Uma questão em que os dois países não têm uma posição convergente é a política de colonatos de Israel nos territórios palestinianos.
Questionado pela imprensa norte-americana sobre a decisão de Washington de deixar de considerar os colonatos israelitas na Cisjordânia contrários ao direito internacional, abandonando uma posição que o Departamento de Estado defendia desde 1978, Augusto Santos Silva respondeu: "Não partilhamos da posição americana em relação aos colonatos"
"Uma das razões pelas quais estas reuniões são tão produtivas é porque nos focamos nos pontos em que convergimos e nas agendas em que podemos acrescentar valor", acrescentou.
"Temos perspetivas diferentes", coincidiu Mike Pompeo, reafirmando que, para os Estados Unidos, "os colonatos não são ilegais e isso aplica-se a todos os colonatos".