Obras de expansão no aeroporto de Lisboa a partir de janeiro? "Será uma ilegalidade"
19-11-2019 - 17:51
 • Pedro Mesquita

Francisco Ferreira, da ZERO, diz que encerrar o aeroporto da Portela entre as 23h30 e as 6h da manhã durante os primeiros seis meses de 2020 "é positivo do ponto de vista ambiental", mas refere que expansão será "ilegal" sem Avaliação de Impacte Ambiental.

Francisco Ferreira, da associação ambientalista ZERO, diz que "será uma ilegalidade" se a ANA - Aeroportos de Portugal avançar com obras de expansão do aeroporto de Lisboa em janeiro sem que exista uma Avaliação de Impacte Ambiental.

Esta terça-feira, o diretor da EasyJet, empresa de aviação low-cost, anunciou durante a apresentação de resultados da companhia que o aeroporto da Portela estará encerrado a partir de janeiro, por motivo de obras.

A notícia foi depois confirmada pela ANA. A empresa avança que vão ser criadas duas saídas rápidas de pista, para melhorar a “eficiência da operação, obtendo maior fluidez na circulação dos aviões, redução dos percursos e das emissões de CO2”.

“Esta intervenção, que ocorre apenas durante o período noturno, implica o encerramento da pista para o horário previsto entre as 23h30 e as 5h30, a partir de 6 de janeiro e até ao final de junho”, avança a empresa, em comunicado.

Em declarações à Renascença, Francisco Ferreira, da ZERO, alerta que, se em causa estiver uma expansão do aeroporto, tal constituirá uma "ilegalidade" sem Avaliação de Impacte Ambiental.

Como interpreta as notícias que apontam para o encerramento do aeroporto de Lisboa de janeiro a junho próximos entre as 23h30 e as 6h da manhã?

A grande questão é que, em nosso entender, essas obras são pura e simplesmente ilegais. Será uma enorme violação do que está estabelecido na legislação. Teríamos a expansão do aeroporto de Lisboa, com obras a começarem em janeiro, ainda sem termos resposta sobre o 'masterplan' que já pedimos à Autoridade Nacional da Aviação Civil e que, pelos vistos, se assim acontecer, não terá Avaliação de Impacte Ambiental.

Ou seja, mais do que a questão de não haver aviões durante a noite, que é positivo do ponto de vista ambiental, apesar de sobrecarregar certamente o ruído fora desse período, a grande questão é estarmos a autorizar a expansão do Aeroporto de Lisboa sem Avaliação de Impacte Ambiental.

Seria obrigatório ou poderia saltar-se esse ponto?

É absolutamente obrigatório e a única coisa que esperamos, aquando da aprovação do plano por parte da Autoridade Nacional da Aviação Civil, é que a Agência Portuguesa do Ambiente exija a Avaliação de Impacte Ambiental. Como digo, já deveria ter exigido uma Avaliação Ambiental Estratégica, e isso é uma ação judicial que a ZERO tem em curso - mas o escândalo maior é se passarmos de 30 milhões de passageiros por ano para mais de 40 milhões, no aeroporto Humberto Delgado, com as obras a começarem em janeiro e sem Avaliação de Impacte Ambiental.

Ainda há tempo para isso até janeiro?

Fazer uma Avaliação de Impacte Ambiental até janeiro é impossível. Pura e simplesmente, não entendemos como é que este anúncio surge agora, porque é verdadeiramente surpreendente.

Seja como for, a ANA - Aeroportos ainda não confirmou oficialmente esta notícia e o que continua também sem existir é um Plano de Ruído, quando já estamos à beira da expansão...

Precisamos de um Plano de Ruído para as circunstâncias atuais, porque nós estamos a ultrapassar, e muito, os valores de ruído quer para o período das 24 horas, quer para o período noturno. Para cumprirmos a lei, a ANA tem de garantir que os valores-limite de 55 decibéis durante a noite e o indicador das 24 horas são cumpridos. As medições que a ZERO fez mostraram que estamos mais de 10 decibéis acima.