Qual o segredo para se ser rico? O empresário Silvestre Ferreira desvenda a fórmula. O CEO da Herdade Vale da Rosa que produz as uvas sem grainha diz que os empresários portugueses têm de arriscar e que não vale a pena ter o dinheiro parado no banco.
De visita à Áustria, a convite do Festival Terras sem Sombra, do Alentejo, o empresário português conversou com a Renascença sobre os problemas da mão de obra no Alentejo. Diz que têm procurado trabalhadores em outros mercados da américa do sul.
O Vale da Rosa tem mercado na Áustria?
O Vale da Rosa exporta bastante para a Europa, mas não exportamos para a Áustria.
Eu conheci algumas pessoas e estou convencido de que, sendo um mercado muito exigente, vai ser possivelmente um mercado importante para as nossas uvas gourmet, naturalmente com um preço mais elevado e, portanto, precisamos desse tipo de mercados.
Ou seja, é um mercado potencial.
Sem dúvida nenhuma. Existem lojas gourmet com dimensão.
Eu convenço-me de que teremos aqui um lugar muito importante para trabalhar e desenvolver a nossa comercialização.
Que volume representa a exportação na vossa produção?
Representa 30% este. Começamos também com uma nova maneira de exportar por via aérea para a Ásia.
Temos a possibilidade de colher as uvas no momento ideal de colheita, visto que poucos dias depois estão à venda nos mercados.
De qualquer forma, o mercado nacional continua a representar a maior percentagem do consumo da uva?
Hoje sim. Inicialmente, quando começamos com a uva sem grainha exportávamos tudo para o Marks and Spencer, porque o mercado português não estava acostumado a uvas sem grainha.
Mas hoje, já exportamos muito menos, porque o mercado português a cada ano exige mais e mais.
Entretanto, estamos a aumentar a nossa produção. Temos que voltar a dar mais atenção ao mercado externo, na medida em que a quantidade será já superior àquela que o mercado interno absorve.
Está, com certeza, numa época de vindima. De que quantidade de produção estamos a falar e em que área?
Este ano nós produzimos cerca de cinco mil toneladas e nós exploramos cerca de 300 hectares. É com esta área que temos muita de vinhas novas.
Dentro de quatro anos teremos o dobro da produção. Assim sendo, na realidade, estamos a dar mais atenção ao mercado externo, porque se impõe que nós exportemos cada vez mais.
Sendo um empresário da área agrícola, qual é a sua principal preocupação em termos ambientais? A água é um problema no Alentejo. Para si, representa uma preocupação de futuro?
Eu vou mudar um bocadinho a sua pergunta. Desculpe o meu atrevimento, mas a grande, grande preocupação nossa, naturalmente, além desses aspetos da proteção da saúde e da natureza, são as pessoas. O Vale da Rosa tem uma fundação cujo objetivo primeiro são as pessoas.
Trazemos de uma forma organizada trabalhadores, particularmente, luso-venezuelanos da Ilha da Madeira. Há sete anos que estamos a trazer esses trabalhadores.
Mas como nós, na altura das colheitas, precisamos de mais de 1000 pessoas, começámos este ano a trazer da Colômbia e do Peru.
E isso quer dizer então que se preocupam em ter uma massa de mão de obra qualificada? Também não estão a recorrer a alguns trabalhadores que existem no Alentejo, noutro tipo de produções agrícolas?
Estamos, sim, mas esse é um problema. E nós temos lá 22 nacionalidades, a maioria das quais, digamos, não fala português sequer.
E temos um grande inconveniente: Chegando ao fim das colheitas, temos que dispensar centenas de pessoas. E essas pessoas, uma grande parte delas, normalmente vão para o fundo de desemprego. Isso não está certo, de maneira nenhuma.
E depois tem um problema muito grande também, que é o seguinte: No ano que vem, só 20% dessas pessoas retornam. Os outros vão para o mundo, para a Alemanha, para Inglaterra. Isso não está certo.
O Vale da Rosa, que produz produtos gourmet, tendo 80% de principiantes todo o ano, é muito difícil para nós. Assim sendo, o que nós queremos é trazer, de uma forma organizada, pessoas muito bem selecionadas, pessoas essas que depois vão morar em Ferreira do Alentejo e no fim das colheitas a Fundação Vale da Rosa vai interessar-se por essas pessoas e acompanhá-los para que, durante os outros seis meses, tenham um trabalho em outros lados.
Para si, o Vale da Rosa é um projeto de uma vida e uma paixão.
É uma paixão. Este tipo de agricultura está muito nas nossas mãos, porque, sobretudo, o produto tem que ter muito bom aspeto, tem que ser belo, tem que chamar meio e isso precisa de delicadeza, de emoção, precisa de amor.
Mas nisso imagino que como empresário também haja momentos em que tem que arriscar, em que se perde, nem sempre se ganha? É um mundo também em que isso existe.
O dinheiro não está num cofre, o dinheiro está no banco. O dinheiro está totalmente à nossa disposição. Naturalmente, é imprescindível que tenhamos crédito. Temos que ser pessoas confiáveis e, se assim for, nós podemos ir ao banco e pedir o empréstimo. E claro que o banco, em contrapartida, hipoteca tudo. Até o cão e o tal do empresário tem, como se costuma dizer, a cabeça no cepo.
Se a coisa corre bem, pode ficar rico. Se corre mal, perde tudo. Então, esta capacidade de risco é inerente ao empresário.
O empresário naturalmente tem que trabalhar muito e também tem que ter muita sorte. Portanto, eu digo o segredo do sucesso é muito trabalho e muita sorte. Sobretudo, muita sorte.