O diretor do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil (DNPJ) acredita que a divulgação do relatório sobre os abusos sexuais do clero em Portugal não afetará a Jornada Mundial da Juventude, mas admite que a situação faz “estremecer” a Igreja.
Para o padre Filipe Diniz, “é de saudar todo o trabalho que tem sido feito” pela Igreja Católica no combate ao problema, sublinhando “a transparência” do processo.
“Se há um criminoso, deve ser julgado (…). E o Papa Francisco tem sublinhado várias vezes a tolerância zero” quanto aos abusos sexuais na Igreja, refere o padre Filipe Diniz, reconhecendo que a Igreja “estremece” com estes casos.
“Mas, se houver verdade, transparência, estamos a ser Igreja. A verdade clarifica. Pode abanar a estrutura (…), as próprias pessoas, a credibilidade, mas se (…) estamos a ser verdadeiros e é a verdade que mostra tudo isso, mostra estas situações, penso que nesse sentido é bom”, afirma o sacerdote responsável pela pastoral juvenil da Igreja Católica em Portugal em entrevista à agência Lusa.
Enaltecendo o trabalho das comissões diocesanas de proteção de menores e da Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa, liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, o padre Filipe Diniz não esconde que a questão dos abusos é “um tema muito sensível”, mas faz questão de manifestar a sua confiança em que a “transparência e a verdade” dá à Igreja “força e motivação”.
Neste contexto, acredita que a Jornada Mundial da Juventude a realizar em Lisboa, entre 1 e 6 de agosto deste ano, “não será” afetada pelas conclusões do relatório da Comissão Independente a divulgar no próximo dia 13 de fevereiro.
A alegria de acolher a jornada
“Alegria” é o que o diretor do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil, espera que marque o dia seguinte ao encerramento pelo Papa da Jornada Mundial da Juventude.
“Espero que [nesse dia] tenha ficado alegria, a alegria de [Portugal] ter acolhido um momento como este. Mas, acredito que depois também vai ser um momento de parar, [e pensar] o que é que vamos agora fazer? De que modo é que a pastoral juvenil vai continuar?”, disse o padre Filipe Diniz em entrevista à agência Lusa.
Para o sacerdote, a JMJ vai ser “um recarregar de baterias” para novos projetos e novos desafios.
No imediato, a preparação da Jornada tem, em todas as dioceses do país, “revitalizado estruturas”.
“As próprias estruturas de pastoral, os próprios grupos que vão surgindo, fruto desta preparação, em toda esta vida que está aqui a borbulhar, que é fantástica”, afirmou.
Quanto aos seis meses que faltam para o encontro mundial de jovens com o Papa, o padre Filipe Diniz não tem dúvidas de que vão ser de muito trabalho.
“Fazer um acompanhamento cada vez mais próximo das dioceses, naquilo que diz respeito a todo este caminho para os Dias nas Dioceses” é apenas uma das tarefas, a par da continuação da peregrinação dos símbolos, que terminará em Lisboa.
O que é importante para o padre Filipe Diniz é que a JMJ “seja para todos”.
Outra vertente que não quer desperdiçar, prende-se com os contactos internacionais que tem tido nos últimos meses.
Através deles, “percebemos também quais são os trabalhos que têm acontecido noutros países. É fantástico, porque nos ajuda imenso. Vamos partilhando isso, disse o responsável pelos contactos diretos com milhares de jovens portugueses, com vista à sua mobilização para a JMJ.
Jornada pode aumentar vocações religiosas
O diretor do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil (DNPJ) da Igreja Católica em Portugal admite que a realização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em Lisboa pode significar um aumento das vocações religiosas entre os jovens portugueses.
“A Jornada Mundial da Juventude, habitualmente, vai tocando o coração dos jovens. Os relatórios das jornadas anteriores falam muito, também, deste sentido vocacional”, disse o padre Filipe Diniz em entrevista à agência Lusa, quando faltam seis meses para o encontro mundial de jovens com o Papa, a realizar na capital portuguesa.
O responsável pela pastoral juvenil, que tem contactado milhares de jovens nos últimos meses, em todo o país, no âmbito da peregrinação dos símbolos da JMJ, manifestou a sua confiança em que a iniciativa mundial “vai tocar e vai despertar o coração de alguns jovens para se entregarem a esta Igreja de Jesus Cristo”.
Diretor nacional da Pastoral Juvenil desde 2017, o padre Filipe Diniz sublinhou o interesse que a Jornada está a provocar na juventude, afirmando que uma JMJ, “por si, já é um sintoma de mobilização”.
“Quem já fez uma experiência de uma Jornada Mundial da Juventude, sente que, de facto, é uma experiência que move o coração do jovem pelo efeito daquilo que é o fenómeno da multidão”, disse o sacerdote, admitindo “a grande maioria dos jovens vão numa perspetiva de vivência da fé (…) e o que se vai sentindo (…) é que a juventude portuguesa está à espera de fazer essa experiência”.
Para o sacerdote, “aquilo de que os jovens portugueses hão de estar à espera é deste conceito universal de uma experiência que, de facto, [faz] vir jovens dos quatro cantos do mundo e dos cinco continentes”.
“Esta vontade de querer conhecer, faz parte da identidade, do crescimento do jovem. Este querer conhecer pessoas, conhecer realidades, conhecer culturas” são fatores que movem os jovens em direção à JMJ, segundo o sacerdote.
E para os que não estão empenhados na Igreja, a JMJ também é mobilizadora? O padre não tem dúvidas de que sim, desde logo porque “aquele que crê vai lançar este desafio: ‘Não queres vir? Não queres fazer esta experiência?’” aos restantes.
“E mesmo aquele que não faça a experiência, acredito vivamente que este momento não lhe vai passar ao lado”, desde logo pela presença nas redes sociais, o que vai levar a que questione: “Olha, o que é que isto quer dizer? O que a Jornada Mundial da Juventude?”
Para a Igreja, a JMJ “é um momento de encontro”, segundo o sacerdote.
“Um momento de manifestação da fé, mas também é um momento de festa”, sempre com a “componente do mostrar os valores da fraternidade, da justiça, da paz”, sublinhou.
Jovens de todo o mundo nas dioceses portuguesas
Com a JMJ a ter lugar em Lisboa na primeira semana de agosto, dias antes terão lugar os chamados Dias nas Dioceses, durante os quais jovens de todo o mundo contactarão com a realidade local de cada uma das dioceses portuguesas.
“Estamos a falar de 26 a 31 [de julho], quando vêm jovens que querem fazer a sua preparação, querem conhecer a realidade do país que acolhe a jornada e que vêm para as dioceses para fazer a experiência com as pessoas, perceber a nossa cultura, perceber a nossa religiosidade, os nossos contextos, aquilo mais belo que nós temos”, explicou o responsável pela pastoral juvenil, acrescentando que, para este período, “as próprias dioceses também têm de preparar uma forma, um esquema de acolhimento e, por sua vez, vão ter de envolver também os jovens [locais] para acolher estes jovens que vêm”.
Preocupações, existem algumas com a situação de crise económica que está a afetar muitos países, entre os quais Portugal, e que podem criar dificuldades à mobilização de alguns jovens.
“Certamente que já está neste momento a afetar”, admitiu o padre Filipe Diniz, ressalvando: “a crise já não é de agora que estamos a vivê-la”.
“Claro que vai interferir, não na totalidade, mas vai interferir nalgumas realidades, nalguns jovens. Mas acredito que, quando se quer mesmo, se deseja mesmo vir, há sempre formas e motivações que levam à vinda para fazer a experiência deste momento”, acrescentou, para de imediato realçar o entusiasmo que está a ser vivido na peregrinação dos símbolos da JMJ - a cruz peregrina e o ícone de Nossa Senhora Salus Populi Romani – pelas dioceses portuguesas.
O sacerdote sublinhou a “criatividade que tem havido com a presença dos símbolos, a envolvência de todas as pessoas, porque os símbolos estão a passar pelas diversas paróquias”, recordando, em particular, o interior do país.
“Tem havido muita preocupação de os símbolos passarem por estas comunidades. Eu recordo-me, por exemplo, numa diocese em que, numa localidade com 20 pessoas, os símbolos passaram ali. Todos fazem parte. Todos somos chamados para a Jornada Mundial da Juventude”, afirmou, apontando como momentos marcantes “a passagem deles [símbolos] pelos mais desprotegidos. Tem havido muito esta preocupação, prisões, lares de idosos…”.
Marcante, também, foi a visita à ilha do Corvo, nos Açores. “Recordo-me da chegada do avião militar com os símbolos e quase toda a população estava à espera. Montámo-los naquele momento e demos a volta à vila e recordo-me de uma senhora que não deixava a cruz. São momentos que me tocam”, afirmou.
A Jornada Mundial da Juventude, considerada o maior acontecimento da Igreja Católica, vai realizar-se este ano em Lisboa, entre 1 e 6 de agosto, sendo esperadas cerca de 1,5 milhões de pessoas.
As principais cerimónias da jornada decorrem no Parque Tejo, a norte do Parque das Nações, na margem ribeirinha do Tejo, em terrenos dos concelhos de Lisboa e Loures.
As jornadas nasceram por iniciativa do Papa João Paulo II, após o sucesso do encontro promovido em 1985, em Roma, no Ano Internacional da Juventude.