A justiça ucraniana já iniciou mais de 40 processos criminais por violência sexual cometidos durante a invasão russa iniciada em fevereiro, mas isto é apenas "a ponta do icebergue", afirmou em Londres esta segunda-feira a primeira-dama da Ucrânia, Olena Zelenska.
Numa intervenção na Conferência sobre a Prevenção da Violência Sexual em Conflitos, Zelenska revelou que a Procuradoria-Geral da Justiça da Ucrânia está a fazer "um excelente trabalho na coordenação já da investigação deste tipo de crimes".
"Mais de 40 processos criminais sobre violência sexual cometida durante a guerra em larga escala iniciada pelos russos" já foram iniciados, acrescentou a esposa do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, admitindo que este número "é apenas a ponta do icebergue".
"O número real é muito mais alto, e agora estabelecer o número é impossível porque ninguém que enfrentou estes crimes horríveis quer denunciar. (...) Infelizmente, as sobreviventes permanecem muitas vezes em silêncio. Mas quando estiverem prontas para falar, temos de assegurar de que têm acesso a assistência jurídica profissional gratuita e a qualquer tipo de apoio de que possam necessitar", defendeu.
Olena Zelenska disse estar a ser preparado, em cooperação com o Fundo Mundial de Sobreviventes, um programa provisório para garantir a compensação das vítimas a longo prazo.
"Esta é uma mensagem para todos os russos: vocês vão pagar durante anos por cada pessoa que tenha sido sujeita a estes crimes", garantiu.
A primeira-dama ucraniana falava na abertura da conferência, que reúne representantes de cerca de 70 países segunda e terça-feira na capital britânica para discutir formas de combater este tipo de crimes em países como a Ucrânia, Etiópia ou Colômbia.
A prémio Nobel da Paz de 2018, Nadia Murad, iraquiana que foi escrava sexual do grupo terrorista Estado Islâmico (EI), afirmou que "a resposta internacional não tem sido adequada" e que a comunidade internacional não deu prioridade à violência sexual.
"Por vezes parece mais fácil falar das limitações da política e dos recursos em vez de nos concentrarmos no que podemos fazer. E acredito que a comunidade internacional pode fazer mais", declarou.
O procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan, admitiu ser necessário "encontrar formas de falar menos e fazer mais".
"Os crimes sexuais baseados no género não são apenas alegações de violação ou violência sexual, não apenas contra raparigas e mulheres e rapazes e homens, mas abrangem uma variedade de crimes, incluindo a perseguição do género. Estamos a tentar tirar as políticas do papel e implementá-las no TPI de forma mais eficaz", garantiu.
Na abertura da conferência, o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, James Cleverly, anunciou um novo pacote de financiamento de até 12,5 milhões de libras (14,5 milhões de euros) para ajudar vítimas a ajudar vítimas de violência sexual a processar os responsáveis.
O Reino Unido vai também dar separadamente 3,45 milhões de libras (quatro milhões de euros) para o Fundo de População da ONU, destinado a combater a Violência Baseada no Género na Ucrânia.