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A ligação virtual acontece, ainda que alguns rostos nunca fiquem visíveis. A sonoridade é o que mais importa no curso de instrumentista de cordas e teclas.
“Pode ser Chopin, professor?”, questiona Ricardo Gama, 17 anos, com piano em casa. Pouco tempo depois, é interrompido pelo maestro e professor Hélder Abreu. “Não se ouve bem os graves”.
Ainda que tenha piano em casa, Ricardo Gama, no primeiro ano do curso de instrumentista de cordas e teclas, tem saudades do ensino presencial.
“Por um lado, temos muito tempo para estudar e por outro temos muito com que nos distrair e há falta de interação, não conseguimos tocar todos ao mesmo tempo”, lamenta o estudante.
O professor e maestro, que é também diretor pedagógico da Escola Profissional Serra da Estrela não esconde as dificuldades no ensino à distância.
“Algumas das interações já eram colocadas online, mas, enquanto maestro, já não dirijo uma orquestra desde março do ano passado. E vê-los crescer enquanto músicos, esse trabalho é muito difícil, ainda por cima num curso de música em que os alunos estão a ser preparados para o ensino superior”, admite o docente.
Hélder Abreu defende uma reestruturação curricular. “Gerimos a entrada das matérias mais práticas mais para a frente, para minimizar os danos da falta dos materiais mais técnicos que os alunos não têm em casa, mas têm na escola. Estamos a tentar gerir até ao limite, para que as aprendizagens sejam o mais potenciadas possível”, afirma.
E foi a partir da escola que a diretora Gina Camelo enviou equipamentos informáticos para os alunos que não os tinham. “Tivemos de manter os alunos fora com as melhores condições possíveis. Demos alguns equipamentos informáticos da escola, que não são de última geração mas permitem-lhes pelo menos fazer os trabalhos. A maioria deles não tem câmara”, desabafa à Renascença, sublinhando a falta de apoios no que diz respeito ao material informático.
“Quer das autarquias, quer do Ministério existe o apoio à escola pública de meios informáticos para os cursos profissionais e nós ficámos de fora. Não tivemos nada, as escolas profissionais ficaram à margem desta mais valia implementada pelo Governo”, denuncia.
A partir de casa, também o curso de técnica auxiliar de saúde, é mais difícil para Liliana Ferreira, de 19 anos, apesar de ter mais tempo para desenvolver a PAP – Prova de Aptidão Profissional.
“Estou a perder muita coisa, porque íamos às instituições para aprender e neste momento não é possível. Eu tenho computador, só que às vezes tenho de emprestar à minha irmã (de 16 anos) e ajudar o meu irmão (de seis). Não é nada fácil, mas vamos articulando”, admite.
Na Escola Profissional Serra da Estrela, só o bar e refeitório ficaram abertos para os alunos mais carenciados terem sempre o almoço e o jantar. Luísa Fernandes trabalha no bar e refeitório.
“Apenas tenho os alunos PALOP a almoçar e levam o jantar para casa. É muito parado, muito vazio e sinto falta dos alunos. O almoço de hoje é pernas de frango com batata assada e o jantar, massa com peixe”, mostra.
A diretora Gina Camelo reivindica ajuda estatal para esta situação. “Temos 10% dos alunos de São Tomé e temos de assegurar a logística, alojamento e alimentação, e os próprios meios de comunicação. Estamos a dar todo o apoio possível. É uma mais valia para os nossos alunos contactarem com outras realidades e para eles uma excelente oportunidade [no ano passado 7 alunos dos PALOP ficaram a trabalhar no concelho de Seia]. Nós damos alimentação e alojamento, mas algum mimo não existe, porque estão dependentes de famílias carenciadas”, alerta.
Maria, de 17 anos, estuda Energias Renováveis. Há um ano e meio que deixou Angola e confessa já estar saturada das aulas online. “É um pouco chato. Gosto mais das aulas presenciais do que ficar em casa”, realça.
Já Tiago Dias, 19 anos, do curso de técnico de multimédia, refere não sentir tantas dificuldades. “Tive de adquirir equipamento. Sente-se algumas dificuldades, mas conseguimos conciliar a matéria”, declara.