Fim de semana marcado por esplanadas cheias e filas nos supermercados, até às 13h00
23-11-2020 - 19:08
 • Pedro Mesquita , Filipe d'Avillez

Representantes do setor consideram que a estratégia do Governo pode ser contraproducente, mas temem levantar o assunto com medo de que a resposta seja o encerramento total ao sábado e ao domingo.

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Pelo segundo fim de semana consecutivo, a generalidade do comércio só esteve aberto entre as 8h00 e as 13h00, numa tentativa de reduzir o número de contágios de Covid-19, mas tanto no sábado como no domingo sucederam-se as imagens de esplanadas cheias e longas filas à entrada dos super e hipermercados.

No plano sanitário será necessário esperar algumas semanas para perceber se estas medidas ajudaram, de alguma forma, a conter a pandemia, mas pelos cálculos do diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), o número de clientes dos supermercados quase duplicou, durante a manhã, nos dois dias.

"Ao contrário do que se passou no outro fim de semana, neste verificámos um aumento. Quase que duplicámos o número de clientes em média, quer no alimentar, quer nos especializados, durante as manhãs de sábado e de domingo. Não temos números finais, naturalmente, mas tivemos até um aumento significativo no domingo, isto é, o que se verificou é que as pessoas, ao só terem a manhã de sábado ou de domingo para fazer as suas compras, foram às lojas tentar abastecer as suas casas. Isto foi notório em todo o país", disse à Renascença Gonçalo Lobo Xavier.

"O que nós verificamos é que as pessoas não conseguem fazer as suas grandes compras durante a semana, por estarem a trabalhar, e a manterem-se este tipo de restrições, vamos ter pessoas em longas filas à espera para entrar nas lojas", conclui.

Já em relação às esplanadas e restaurantes não há números, mas João Vieira Lopes, da Confederação do Comércio, admite uma maior concentração de clientes do que é o habitual.

"Em geral houve muito mais gente do que seria normal, quer no comércio, quer nas esplanadas. Sem se poder quantificar, as pessoas concentraram de facto as suas movimentações no sábado de manhã", explica.

João Vieira Lopes sublinha que as regras sanitárias são respeitadas nos espaços comerciais. O problema, diz, são as filas no exterior. O presidente da CCP defende que o horário de abertura não deveria ser tão limitado, para evitar tantos ajuntamentos, mas considera arriscado reabrir esse debate. "É difícil dizer isso ao Governo, na medida em que levantar essa discussão provavelmente levaria a encerrar o dia todo, porque os conselhos em termos de saúde pública vão nesse sentido."

Da parte dos médicos, Gustavo Tato Borges, vice-presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, sugere dar um pouco mais de tempo às pessoas para fazerem compras, mas reduzir ainda mais a lotação dos estabelecimentos comerciais.

"A minha perceção é que as pessoas acabaram por aglomerar as suas compras todas no sábado de manhã, criando uma situação de elevada procura e um ajuntamento de pessoas que seria desnecessário e indesejável, em vez de termos alargado o nosso período de compras a toda a semana – e tudo bem que há pessoas que não o conseguem fazer, porque o seu trabalho os impede – a verdade é que tivemos um aglomerado de pessoas e isso não é o desejável, tendo em conta a pandemia."

"Se calhar o que poderíamos ter era abrir durante mais tempo, mas com menos lotação. Em vez de ser só o período da manhã, se pudéssemos ter um tempo mais alargado para ir ao supermercado, era uma coisa boa, mas também restringir ao número de pessoas que podem estar no supermercado e não permitir o acumular de filas. As pessoas não ficariam à porta à espera. Há também a possibilidade de compras online, mas as pessoas ainda não estão habituadas", conclui Gustavo Tato Borges.

A regra do recolher obrigatório, com consequente encerramento dos super e hipermercados e restauração a partir das 13h, vai manter-se nos próximos dois fins-de-semana para os concelhos de alto e altíssimo risco e estende-se também aos feriados de 1 e 8 de dezembro.