Pelo menos 72 detidos em França, naquela que terá sido a noite menos violenta desde a morte de um jovem pela polícia.
Segundo o ministro do Interior francês, foram registados mais de 200 incêndios na via pública e quase 160 veículos foram incendiados e mais de 20 edifícios foram vandalizados.
Nas últimas horas, o Presidente francês e o ministro do Interior visitaram uma esquadra da polícia nos arredores de Paris. Uma visita surpresa, antes de, já esta terça-feira, Emmanuel Macron receber os autarcas dos municípios afetados pelos tumultos dos últimos dias.
À Renascença, o diretor do LusoJornal, o jornal da comunidade portuguesa em França, explica que é junto dos autarcas que Macron tem maior credibilidade. Carlos Pereira diz que o Presidente francês comunica mal com o país.
“As declarações ao país do Emanuel Macron saem muito mal. Ele não tem sabido comunicar bem com a nação. É visto como muito arrogante, como muito importante. Portanto, ele está-se a aproximar do poder local onde as taxas de credibilidade política são maiores”, diz.
Carlos Pereira nota que inicialmente, a sociedade francesa compreendeu a reação ao incidente de Nanterre, mas os confrontos rapidamente resvalaram para um extremo de violência de que não há memória.
“Inicialmente até se percebia, eram jovens que reagiam ao facto de um polícia ter matado à queima-roupa um rapaz, mas que muito depressa se transformou num ato de incompreensão, já que eram violências gratuitas. Eram pessoas que partiam e que roubavam e, portanto, que já não tinha nada de mensagem”, sublinha.
Este português que reside em França há 40 anos diz que “há muito tempo que não se via este tipo de degradação de mobiliário público em grande escala. Não é só na região parisiense, foi na França toda, em muitas cidades de França”.
Exclusão social na base dos tumultos
“Eu não estava habituado a ver este tipo de coisas aqui”, frisa.
Sobre a violência a que se está a assistir, Carlos Pereira entende que os acontecimentos vão muito para além de racismo policial. Diz que a exclusão social em que vivem as populações desfavorecidas das zonas suburbanas é um debate muito antigo em França, mas reconhece que o discurso da extrema-direita condiciona a atuação das autoridades.
“O facto de se viver nestes bairros suburbanos de grandes cidades. Eu estou cá há 40 anos, portanto, há 40 anos isto já é assunto de debate. Depois o da violência policial, a verdade é que no ano passado houve uns 12 casos como este de mortes, em princípio desnecessárias”, destaca.
Segundo este português, os sindicatos de polícia estão muito ligados à extrema-direita e a polícia precisa de ter aqui um trabalho grande.
“É o que vai acontecer agora”, diz, antecipando que Macron “vai acalmar a situação e depois iniciar o debate”.
“E aí sim, Macron vai ter um problema grande. Ele não tem a maioria no Parlamento e, portanto, ele vai ter de encostar à direita ou à esquerda imediata. E essa ajuda não vai ser fácil obter, porque é obrigado a trabalhar também as leis sobre a imigração e misturar as duas coisas vai ser complicado”.