O coordenador do Observatório da Emigração defendeu este sábado que Portugal "precisa desesperadamente" de imigrantes e, para resolver o problema de falta de mão de obra, deve facilitar a entrada de estrangeiros e fazer campanhas de recrutamento no exterior.
Para o também sociólogo Rui Pena Pires, o problema demográfico que Portugal e a Europa enfrentam de falta de mão de obra em alguns setores só se resolve com mais imigração. Um caminho que tem de ser feito rapidamente sob pena de se não o fizerem estarem a caminhar para "o suicídio", alertou.
"É um tema hoje complicado de gerir, face aos movimentos nacionalistas que estão a nascer um pouco por toda a Europa, mas se não tiverem mais imigrantes, Portugal e a Europa estão a suicidar-se", afirmou, em declarações à Lusa.
O país "precisa desesperadamente de imigrantes" e passa "demasiado tempo a falar dos problemas da natalidade", considerou.
Porém, Pena Pires defendeu que é necessário "criar condições para que os pais possam cuidar dos seus filhos", sendo certo de que não será através de políticas para a natalidade que se vai resolver de imediato um problema de falta de mão de obra já existente em muitos setores.
"As dinâmicas demográficas da natalidade e da mortalidade não têm consequências a curto prazo", frisou.
Para atrair imigrantes, o país precisa, segundo o professor e sociólogo, de colocar menos obstáculos à entrada de estrangeiros, mas também de "ter políticas ativas de recrutamento lá fora".
Considerando os problemas atuais que os países enfrentam, de movimentos nacionalistas face a grandes fluxos de imigração, Pena Pires aponta exemplos positivos do Canadá e da Austrália. "Têm um peso de 30% da imigração com grande estabilidade e viáveis em todos os aspetos. São países prósperos e pacíficos".
Na opinião de Vítor Antunes, diretor executivo da Manpower, responsável pelo recrutamento para trabalho temporário, e uma das mais antigas a operar no mercado português nesta área, Portugal precisa "de mão de obra, em geral, e de talentos".
Para combater o problema tem de o fazer, "não só pela via do regresso de alguns emigrantes, mas também pela via da imigração", considerou.
Os perfis especializados, ou seja, eletricistas, soldadores, mecânicos, e os técnicos, como motoristas, engenheiros, informáticos, professores, pessoas para as áreas de apoio ao cliente, advogados e investigadores, gestores de projeto e alguns administrativos, são as classes profissionais com mais escassez de recursos humanos, relatou.
Informação sustentada por um estudo que a Manpower lançou recentemente, o "Talent Shortage Survey", que indica que 46% das empresas nacionais revelaram dificuldades acima da média para recrutar o talento certo para o que precisavam, o maior aumento desde 2016, e 35% admitiu que os candidatos não têm as competências necessárias para os lugares, "o que tem vindo a dificultar o processo de recrutamento e seleção".
O 'ranking' dos perfis mais procurados, segundo o mesmo documento, é liderado pelos profissionais especializados e técnicos, motoristas e engenheiros.
"São profissões que estão em constante mutação e cujo desempenho obriga a alguns conhecimentos técnicos e também tecnológicos", disse Vitor Antunes.
O empresário António Mota, dono da Mota-Engil, empresa com negócios em vários países no setor da construção, um dos afetados pela falta de mão de obra, prevê que se o desenvolvimento em Portugal continuar a verificar-se, o país vai "precisar de mão de obra semiespecializada e especializada".
"Portugal precisa de muita mão de obra e precisa que regressem os seus quadros que emigraram", defendeu o empresário.
Para o setor da construção, "falta pessoal e está-se a importar mão de obra de várias origens", afirmou.
Segundo Pena Pires, "Portugal tem de ter outra política de entradas. Porque o país (...) precisa de imigração regular".
"Para isso temos de colocar menos obstáculos aos processos de entradas, mas também de tomar a iniciativa de fazer recrutamento em vários países", considerou.