A Federação Russa poderá estar na iminência de voltar a realizar testes com um míssil de cruzeiro movido a energia nuclear. A notícia foi avançada esta segunda-feira pelo New York Times, com base em observações de satélite e movimentações de veículos registadas nas últimas semanas, numa região remota do Ártico.
As operações são consistentes com as verificadas durante um período anterior de testes, ocorrido entre 2017 e 2019, indica o jornal.
O primeiro sinal de alerta surgiu a 31 de agosto, quando as autoridades russas emitiram um aviso à aviação para uma “área de perigo temporário” situada no Mar de Barents, a 20 quilómetros da base de lançamento de míssies conhecida como Pankovo.
Desde então, o aviso foi prorrogado várias vezes e, a partir de domingo, estava programado que entrasse em vigor até 6 de outubro, refere o NYT. A Rússia emitiu um aviso semelhante antes de um teste do Burevestnik em 2019.
Outras provas recolhidas e analisadas pelo NYT, com base em imagens de satélite, mostram que, a 20 de setembro de manhã, foi detetada a presença de um camião com um reboque que parece corresponder à dimensões do míssil. À tarde, o veículo tinha desparecido, dando lugar a um abrigo. Oito dias depois, a situação repetiu-se.
Aeronaves russas utilizadas especificamente para recolher dados de lançamento foram também estacionadas na base aérea de Rogachevo, a 160 quilómetros a sul de Pankovo.
O carácter altamente secreto de que se reveste o desenvolvimento deste armamento não permite, porém, saber se os testes vão acontecer em breve ou se a arma já foi testada.
Pequeno reator, mais alcance
O Burevestnik, também conhecido como SSC-X-9 Skyfall, é uma das armas estratégicas referenciadas pelo Kremlin, a par do míssil balístico Kinzhal e do planador hipersónico Avangard.
Apesar de promissoras, os testes realizados entre 2017 e 2019 não correram como esperado. O projétil não conseguiu voar mais do que 35 quilómetros e um dos testes mal-sucedidos acabou por provocar a morte de sete pessoas, na sequência de uma tentativa de recuperar restos do míssil, que acabou por explodir.
De acordo com o relatório da Iniciativa de Ameaça Nuclear, citado pelo New York Times, este míssil é uma “arma de segundo ataque, de alcance estratégico”, com capacidade para transportar uma ogiva convencional; o mais provável, contudo, é que venha a ser usado para transportar carga nuclear.
Se usado em tempos de guerra, o míssil poderá ter o potencial de destruir grandes áreas urbanas e alvos militares, dizem os especialistas.
Embora a Rússia tenha partilhado pouco sobre o design específico do Burevestnik, os analistas acreditam que deva ser lançado por um motor de foguete de combustível sólido, à semelhança de outros já existentes. Posteriormente, já durante o voo, um pequeno reator ativa-se, em teoria permitindo que o míssil permaneça no ar indefinidamente, podendo voar mais de 22 mil quilómetros.
Para além do perigo de transportar uma arma nuclear, o Burevestnik tem o potencial de libertar emissões radioativas prejudiciais em caso de explosão ou mau funcionamento durante os testes.
Ao NYT, o diretor executivo da Arms Control Association, Daryl G. Kimball, garantiu que, mesmo com um lançamento bem-sucedido, ainda faltarão anos até o míssil ficar totalmente "operacional".
A ser produzido, o Burevestnik será considerado parte do arsenal nuclear da Rússia, sujeitando-se às regras previstas no tratado New START, que expira em 2026. Moscovo suspendeu a participação no acordo em fevereiro de 2023, pelo que o desenvolvimento do míssil poderá contribuir para “o início de uma corrida descontrolada ao armamento", alerta Kimball ao NYT.