Entre as 2.882 freguesias de Portugal continental, apenas pouco mais de 1% tem uma poluição do ar que não excede o que a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera seguro. A conclusão faz parte de uma investigação do jornal britânico The Guardian, que diz que 98% dos europeus respira ar tóxico, perigoso para a saúde.
As 32 freguesias com qualidade do ar ótima, localizadas no Interior Centro e Norte do país, contrastam com o Litoral, onde os centros urbanos registam o dobro dos valores de concentração de partículas estabelecidos como seguros pela OMS.
Os valores são uma média da poluição do ar registada entre 2000 e 2019, medida através da concentração de partículas PM2,5 por metro cúbico.
Estas partículas são das mais perigosas para a saúde, devido à dimensão extremamente reduzida – têm um diâmetro máximo de 2,5 micrómetros, quando um fio de cabelo pode ter entre 17 e 181 micrómetros.
Essa dimensão significa que as partículas são pequenas o suficiente para penetrar profundamente os pulmões, chegando até aos alvéolos e interferindo no processo respiratório. Para a OMS, cada metro cúbico de ar não pode conter mais de 5 microgramas das partículas PM2,5.
Montalegre é o concelho com ar menos poluído
De acordo com o mapa interativo, o município com mais freguesias com ar seguro é Montalegre, no distrito de Vila Real, onde 13 das 25 freguesias - como Pitões das Júnias, Viade de Baixo e Fervidelas, e Gralhas - registam uma média de poluição do ar abaixo do máximo estipulado pela OMS.
Montalegre não tem sequer 10 mil habitantes, segundo o Censos de 2021, mas as cerca de 1.800 pessoas que vivem na vila chegam para empurrar a poluição do ar para cima do recomendado pela Organização Mundial de Saúde.
Outros municípios onde há freguesias com ar seguro são Bragança (3), Boticas (2), Moimenta da Beira (2), Sernancelhe (2), Vinhais (2), Alfândega da Fé (1), Arganil (1), Macedo de Cavaleiros (1), Valpaços (1), Vila Pouca de Aguiar (1), Ribeira de Pena (1), Seia (1), Trancoso (1).
Europa de Leste é a região com ar mais perigoso
O The Guardian aponta que a Europa de Leste é a região do Velho Continente com o ar mais perigoso. Quase todos os habitantes da Sérvia, Roménia, Albânia, Macedónia do Norte, Polónia, Eslováquia e Hungria respiram o dobro da quantidade de partículas que a OMS considera segura.
Entre estes países, são a Macedónia do Norte e a Sérvia que estão pior – mais de metade da população respira mais de quatro vezes as partículas recomendadas pela OMS.
A Itália é outra região bastante afetada pela poluição do ar, principalmente no Norte do país - onde um terço das pessoas também respiram ar quatro vezes mais perigoso que o máximo estabelecido pela Organização Mundial de Saúde.
Um relatório do Instituto de Política Energética da Universidade de Chicago sobre a qualidade do ar sobre a qualidade do ar estabeleceu, em agosto deste ano, que a poluição por partículas finas é "a maior ameaça externa à saúde pública" a nível mundial.
A Agência Europeia do Ambiente diz que esta poluição é a causa da morte de 1.200 crianças e adolescentes por ano no Velho Continente; em 2017, um relatório desta agência apontou que a má qualidade do ar causa a morte prematura de 400 mil europeus por ano.