Trump envia mais de cinco mil soldados para a fronteira EUA-México
30-10-2018 - 09:22

É um reforço para travar a caravana de migrantes, na maioria hondurenhos, que já está no México. Mais de sete mil pessoas buscam o "sonho americano".

Os Estados Unidos vão enviar 5.200 soldados para a fronteira com o México. A medida vem com a chegada de um contingente de refugiados sul-americanos aos EUA e reflete a forte posição do Presidente Donald Trump contra a imigração ilegal, a uma semana de eleições.

Os mais de cinco mil soldados serão um dos maiores contingentes ativos de militares americanos, equiparando-se às forças no Iraque. A administração Trump tenta travar a entrada de uma caravana de migrantes, a maioria oriunda das Honduras.

Nas últimas duas semanas, milhares de hondurenhos têm percorrido a pé muitas centenas de quilómetros e atravessado vários países da América Central, tentando entrar nos Estados Unidos. Tentam fugir da miséria, da violência de grupos criminosos organizados nas Honduras e tentar as oportunidades num país cada vez mais hostil à entrada de imigrantes da América Latina.

Na segunda-feira passada, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) estimou que a marcha já contava com mais de sete mil pessoas.

O general Terrence O'Shaughnessy, do Comando do Norte dos EUA, disse que 800 tripas americanas já estão mobilizados para a fronteira do Texas e mais estão a caminho das fronteiras da Califórnia e do Arizona. Estes três Estados, mais o Estado do Novo México, são a porta de entrada entre o México e os Estados Unidos.

"O Presidente deixou claro que a segurança na fronteira é segurança no país", disse O'Shaughnessy, à medida que explicava o forte contingente.

O'Shaughnessy afirmou que alguns soldados estaria armados apesar de não especificar quem precisaria dessas armas, além da polícia militar americana. Autoridades americanas não querem que as tropas patrulhem a fronteira, mas sim apoiar a entrada de migrantes, através da construção de tendas e barricadas.

Na sua campanha presidencial em 2016, Donald Trump foi muito crítico contra a imigração ilegal e ficou famosa a promessa de construir um muro na fronteira com o México, para impedir a entrada de mais pessoas. Agora, está em campanha pelos candidatos republicanos às eleições para a Câmara de Representantes, Senado e Governador e volta a criticar os migrantes que pretendem entrar no país.

Trump disse que os Estados Unidos vão construir "cidades de tendas" para acolher os migrantes, em vez de permitir a entrada imediata e deixar que se espere por decisões de tribunais para cada pessoa.

"Vamos montar tendas por todo o lado. Não vamos contruir estruturas e gastar centenas de milhões de dólares nisto. Vamos ter que ter tendas", disse à estação televisiva Fox News. O Presidente explica que esta medida poderá desencorajar a entrada de mais pessoas.

Mais soldados para mandar embora as "pessoas muito más"

Se os republicanos perderem o controlo da Câmara dos Representantes ou do Senado, a política anti-imigração de Trump poderá tornar-se bem mais complicada de atingir. De acordo com estudo do Pew Research Center, feito entre setembro e outubro, 75% dos republicanos acham que a imigração ilegal é um grande problema, comparado com apenas 19% dos democratas.

Apesar de os congressistas republicanos elogiarem a medida de Trump de posicionar mais soldados na fronteira, o Sindicato dos Direitos Cívicos Americano apelidou a medida de golpe político.

"O Presidente escolheu mesmo antes das eleições para forçar o exército a cumprir a sua agenda de anti-imigração, medo e divisão", disse Shaw Drake, conselheiro político para o centro desse sindicato, na fronteira do Texas.

Trump disse na segunda-feira, através da rede social Twitter, que os militares estão à espera de mais desenvolvimentos, sugerindo um papel bem mais ativo do que o sugerido por Terrence O'Shaughnessy.

"Muitos membros de gangues e algumas pessoas muito más estão misturadas na caravana a caminho da fronteira no sul", disse Trump. "Por favor voltem, vocês não serão admitidos dentro dos Estados Unidos a não ser que passem pelo processo legal. Isto é uma invasão ao nosso país e os nossos militares estão à vossa espera!", acrescentou.

As autoridades disseram que ainda nenhuma decisão foi tomada sobre o papel dos soldados.

Um mar de gente a caminho do "sonho americano"

Kevin McAleenan, comissário americano de Alfândega e Proteção Fronteiriça, disse que um grupo de aproximadamente 3.500 imigrantes estavam a atravessar o sul do México com a intenção de chegar à fronteira americana.

Uma segunda caravana de cerca de três mil pessoas estava na fronteira entre a Guatemala e o México, acrescentou.

Ao mesmo tempo, durante as últimas três semanas, agentes fronteiriços encontraram quase duas mil pessoas por dia ou a tentar atravessar a fronteira ilegalmente ou a apresentar-se em pontos de entrada, sendo que metade dessas pessoas eram crianças sozinhas ou pais a viajar com os seus filhos.

"Já estamos a enfrentar uma crise humanitária e de segurança na fronteira sudeste", disse McAleenan. Alguns migrantes desistiram da viagem, devido às dificuldades e à possibilidade de tentarem antes oportunidades no México.

A decisão de Trump em mandar mais soldados parece ser um passo à frente das práticas dos últimso anos, em que estas operações na fronteira eram levadas a cabo por guardas nacionais - em grande parte membros em regimes parciais e que frequentemente eram chamados para emergências nacionais.

Já estão na fronteira 2.100 guardas nacionais, enviados por Trump em abril. Os militares enviados agora serão um acréscimo aos que já estão lá.