Os parceiros sociais saudaram este domingo o acordo de concertação social alcançado sábado com o Governo, mas alertaram que esse compromisso constitui um ponto de partida, face à imprevisibilidade da conjuntura nos próximos anos.
A Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) assinou o documento antes da cerimónia, enquanto a CGTP recusou formalizar o acordo, alegando que as medidas previstas são "insuficientes" para responder aos problemas dos trabalhadores, reformados e pensionistas.
Para o presidente da CAP, as negociações com o Governo permitiram "subir um degrau", uma vez que o documento hoje assinado "é muito diferente" do que foi apresentado à confederação no início do processo, passando a abranger "todos os agricultores" nas medidas previstas.
"Estas medidas não chegam e são insuficientes, mas a imprevisibilidade do futuro e a complexidade do conjunto obriga-nos a todos a dar um passo de cada vez e foi isso que foi feito. Este acordo não se esgota nem esgota o muito que há ainda para fazermos no sentido de recuperarmos a nossa competitividade", salientou Eduardo Oliveira e Sousa.
O responsável da CAP pediu ainda celeridade em decisões como no pagamento atempados aos agricultores, na mitigação dos custos da energia e dos combustíveis, nos processos de investimento e na desburocratização do setor.
António Saraiva, presidente da CIP, sublinhou que o acordo agora formalizado representa um "aproximar de posições" entre as partes, mas alertou que, a partir desse documento, é preciso "chegar mais longe".
"É um ponto de partida, não é um ponto de chegada", salientou António Saraiva, ao considerar que os quatro anos de vigência do acordo vão incluir quatro Orçamentos do Estado.
"Desejamos e tudo faremos nesse sentido para que, durante os quatro anos, possamos carrear aquilo que agora fomos pouco ambiciosos", no sentido de se alcançar a transformação da economia portuguesa, disse o responsável da CIP.
Para isso, "os astros terão de ser alinhar, tendo em conta as condições externas imprevisíveis", adiantou.
O presidente da CTP admitiu que, no início das negociações, as suas expectativas "eram muito baixas", mas salientou que o conteúdo do acordo é "um ponto de partida que dá alguma esperança".
"É a primeira vez que o documento inicial e o documento final são completamente diferentes. Houve de facto concertação", destacou Francisco Calheiros, ao avançar que a confederação conseguiu ver plasmadas medidas para o Turismo que eram reivindicadas há muito tempo.
"Existe uma série de situações previstas nesse acordo para serem trabalhadas. Vamos trabalhar de facto em sede de concertação social para cumprir esse acordo e, que no final, haja maior crescimento da economia e aumento do rendimento das famílias", disse.
Pela parte dos sindicatos, o secretário-geral da UGT destacou o "acentuado esforço" dos parceiros nas negociações para não serem criados entraves ao resultado final do acordo, que considerou ser o possível.
"Este é o acordo possível, que temos de saudar, porque nele estão introduzidas medidas que proporcionam inegáveis vantagens para os rendimentos dos trabalhadores", disse Mário Mourão.
Para o sindicalista, dada a imprevisibilidade dos próximos tempos e as dificuldades resultantes da guerra na Ucrânia e do aumento da inflação, "este acordo pode ser entendido, no mínimo, como uma baliza que não permita a continuação da espiral incontrolável" de perda do poder de compra dos portugueses.
"A assinatura do acordo constitui o início de uma caminhada que, por vezes, pode ser algo acidentada. A UGT vai estar permanentemente empenhada e continuará a monitorizar com objetivos intransigentes de garantir a recuperação do poder de compra dos trabalhadores, dos reformados e dos pensionistas", assegurou Mário Mourão.