A Associação Portuguesa de Apoio à Vítimas recebeu uma média de 49 queixas de violência doméstica por dia, entre 2013 e 2015, a maioria feita por mulheres jovens envolvidas em relações muito violentas.
Neste período, a APAV registou 22.387 processos de apoio a vítimas de violência doméstica, que se traduziram em 54.031 factos criminosos, referem os dados estatísticos reunidos pela associação para assinalar o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, que se assinala na sexta-feira.
Do total das vítimas apoiadas, 19.132 (85,46%) eram mulheres e 3.141 (14,03%) homens, adiantam os dados, precisando que, em 2013, foram ajudadas 7.271 vítimas, em 2014, 7.238, e em 2015, 7.878.
Analisando os dados, Daniel Cotrim, assessor técnico da direcção da APAV, afirmou que são “números elevados”, mas que estão em linha de conta com os dados dos últimos anos da violência doméstica em Portugal.
Estes dados permitem dizer que “as pessoas estão mais sensibilizadas para a denúncia” e que as campanhas de sensibilização têm surtido efeito.
Contudo, sublinhou Daniel Cotrim, “apesar de não haver grandes oscilações nos números também não podemos pensar que a violência doméstica está a diminuir, pelo contrário”.
Perfil da vítima mudou
O que é preocupante é a “cifra negra, aqueles números que não conhecemos, as mulheres que não denunciam às autoridades e que não chegam sequer às organizações para pedir apoio”, frisou.
A maior parte das mulheres que pediu ajuda tinha entre 26 e 55 anos (39%), um perfil que se alterou nos últimos 20 anos.
Antes da violência doméstica ser um crime autónomo e um crime público, as mulheres denunciavam a situação após 20 a 30 anos de vitimação. Faziam-no quando os filhos já tinham saído de casa e considerarem que já não havia desculpa para viverem na violência doméstica.
“Hoje em dia, quando olhamos para o perfil da vítima vemos mulheres muito jovens e percebemos que a duração da relação abusiva até contactar com a APAV vai dos dois aos seis anos”, disse o psicólogo.
O facto da relação abusiva durar “muito menos tempo, é bom”, quer dizer que as campanhas de informação, “mas quando olhamos para dentro destas relações, elas são altamente violentas”.
“Rapidamente se passa da violência psicológica, do insulto, para a violência física, à tentativa de homicídio ou mesmo o homicídio”, disse Daniel Cotrim,
Agressor está mais jovem
Relativamente ao perfil do agressor, também é um homem mais jovem, entre os 26 e os 55 anos, empregado, em que as questões do álcool ou qualquer outro tipo de adição não se colocam como factor associado à violência.
Em termos da relação, na maior parte dos casos (34,4%) o autor de crime é o cônjuge, em 15,3% o companheiro/a, em 13,1% o filho/a, em 8,8% o ex-companheiro e em 8,2% o pai ou a mãe.
Os lugares onde ocorrem os crimes são na grande maioria na casa comum (66,6%), mas também a residência da vítima (12,7%) e os lugares públicos (8,8%).
A APAV sublinha que as queixas registadas ficam-se nos 38,9% face ao total dos autores dos crimes (22.925).
“Não chega dizer às mulheres que são vítimas para denunciarem, temos que lhes dar mais informação” para perceberem “o que podem fazer para se protegerem”, defendeu Daniel Cotrim.