As autoridades portuguesas estão a realizar, desde esta terça-feira, perícias na Barragem do Arade, em Silves, a 50 quilómetros da Praia da Luz e do 'resort' de onde Madeleine McCann desapareceu, em 2007.
O regresso da Polícia Judiciária (PJ) ao terreno está relacionado com uma Diretiva Europeia de Investigação, na sequência de um pedido das autoridades alemãs.
Os especialistas não têm dúvidas de que, mesmo passados 16 anos do desaparecimento de Maddie, é ainda possível encontrar vestígios importantes para perceber o que terá acontecido à criança britânica que desapareceu de um aparthotel na praia da Luz.
Em declarações à Renascença, Duarte Nuno Vieira, catedrático e especialista em Medicina Forense, refere que “muito provavelmente haverá uma tentativa de detetar restos ósseos e ver se esses restos correspondem, de facto, à criança desaparecida”.
O especialista destaca que “mesmo décadas ou séculos até hoje, é possível, muitas vezes, conhecer aquilo que se passou a partir das evidências que ficam nos restos ósseos”.
“Os ossos também falam e neles podem ficar múltiplas marcas que nos podem dar uma ideia de facto quanto ao que aconteceu e, desde logo, permitir também através nomeadamente de estudos de ADN e outros detetar se são de facto ossos correspondentes àquela criança.”
Na perspetiva do especialista em Medica Forense, será ainda válido encontrar roupa e outros objetos, como brinquedos. Tudo depende do material em causa, se está, ou não, enterrado ou até mesmo dentro de sacos de plástico.
“Mesmo após 16 anos, é perfeitamente possível ainda detetar a presença dessas ossadas, mesmo o facto de terem estado eventualmente em água não vai impedir a sua preservação e não vai impedir o respetivo estudo”, diz.
Já quanto a outros objetos, “tudo dependerá dos materiais que estiverem em causa e da capacidade de resistência desses materiais ao tempo e, nomeadamente, também à permanência na água”.
“Tudo dependerá do tipo de objeto de peça, etc., que possa estar em causa da respetiva composição”, sintetiza.
Nestas declarações à Renascença, o especialista adianta que a Medicina Legal é depois fundamental na fase seguinte à localização de algum indício.
“Depois haverá, obviamente, testes de genética forense, outros testes também no âmbito da antropologia forense, para ver se há uma correspondência, se de facto, correspondem àquela criança, a quem se pensa que possam pertencer e, depois, a partir desses ossos também permitir estudar o que é que poderá ter sido feito, que tipo de sevícias, que tipo de maus-tratos, que tipo de causa de morte poderá ter estado na origem do falecimento daquela pessoa”, explica Duarte Nuno Vieira.
Neste sentido, bastará que se detete, por exemplo, uma parte do corpo para perceber a quem pertence e o que lhe terá acontecido.
No entender do antigo presidente do Instituto de Medicina Legal e perito forense das Nações Unidas (ONU), esta diligência não é descabida.
“É perfeitamente compreensível, passado tanto tempo que se procure chegar ao conhecimento da verdade e fazer justiça.”
O especialista destaca a "singularidade" deste caso. "Não é normal que os casos se arrastem tanto tempo e que haja reaberturas sucessivas”, indica Duarte Nuno Vieira, sublinhando que “este é um dos casos mais dispendiosos do ponto de vista pericial que se concretizou até hoje".
“Tudo isso também se justifica pelo mediatismo que este caso teve, pelo impacto que teve na comunidade internacional e pela atenção que mereceu da parte dos governos, da parte das polícias, da parte da comunidade”, acrescenta.
Mas para o especialista, este “pode ser também um caso exemplar para mostrar que nunca é tarde para fazer justiça, que nunca é tarde para chegarmos ao encontro da verdade e que, mesmo décadas depois, é possível, por vezes, chegar ao conhecimento daquilo que verdadeiramente se passou”.