Há novos picos de violência em Cabo Delgado, Moçambique. A informação é confirmada à Renascença pelo responsável da área da comunicação da Diocese de Pemba, o padre Latifo Fonseca.
O testemunho junta-se à denuncia dos Médicos Sem Fronteiras, que reportou em comunicado "mais uma vaga de milhares de pessoas deslocadas na província".
Em entrevista, a partir de Pemba, o sacerdote revela que “a segurança continua frágil com ataques pontuais na região”, o que continua a fazer crescer o número de deslocados. Há “pequenos grupos que continuam a aparecer nas aldeias”.
“Entraram recentemente na Ilha de Matemo, onde começaram a disparar, e a queimar casas. Não temos dados de feridos, nem mortos, mas confirmo esses ataques”, revela.
O responsável diz que “ainda é cedo para avaliar o contributo da presença de várias forças de segurança estrangeiras” na região, porque “ainda não se pode pensar o regresso dos deslocados às suas proveniências porque a insegurança é notável”.
Aumenta o número de deslocados
O porta-voz da Diocese de Pemba está preocupado com a situação humanitária na “medida em que os ataques se intensificam em alguns lugares, em que o povo poderia estar a fazer as suas machambas”.
Por isso, considera ser “preciso que os deslocados, que estão em diferentes pontos da província e noutros lugares, continuem a contar com ajuda humanitária”.
Fruto dos recentes ataques há também um aumento do número de deslocados, que “segundo dados oficiais das autoridades já estarão próximos dos 820 mil”.
À vulnerabilidade resultante da fuga da violência acresce o início da época de ciclones e chuvas intensas em Moçambique, a que se junta também a falta de recursos do Programa Mundial de Alimentação (PAM).
O padre Fonseca adianta ainda que teve acesso a algumas gravações que provam que o programa alimentar da ONU estava com uma rutura dos seus stocks. “Eles estão a falar com os seus parceiros para iniciar uma retoma e a Cáritas da Diocese de Pemba está a trabalhar para ajudar a colmatar essa situação”, sublinha.
O sacerdote nota que “a Cáritas está a preparar-se com muita alimentação e outros meios como sementes para plantio” para ajudar, pois que “apesar dos seus poucos recursos a Diocese de Pemba está a acompanhar e a assistir de perto os que estão nessa crise alimentar”.
Médicos sem Fronteiras confirmam insegurança
Em comunicado, os Médicos Sem Fronteiras “reporta como o recente novo pico de ataques e violência na província moçambicana de Cabo Delgado causou mais uma vaga de milhares de pessoas deslocadas em apenas algumas semanas no final de janeiro, a maior registada nos últimos meses”.
A organização adianta que “pelo menos 14 mil pessoas tiveram de fugir em busca de segurança e meios básicos de sobrevivência, tendo-se registado mais de 20 ataques a quatro aldeias nas últimas duas semanas, com 2. 800 casas danificadas ou destruídas no distrito de Meluco e em zonas do Sul do distrito de Macomia”.
No documento, os Médicos Sem Fronteiras reiteram “a importância do acesso seguro e sem restrições às populações, para que as equipas possam adaptar-se e fazer chegar às pessoas os muito necessários cuidados médicos”.