O primeiro-ministro defendeu esta terça-feira que "não vale a pena alimentar" uma nova polémica com Angola sobre os incidentes no bairro Jamaica, e antecipou que a visita do Presidente da República a este país será "histórica".
"Acho que há coisas que não vale a pena estarmos a alimentar e, como disse o presidente [de Angola] João Lourenço, estamos agora no pico das nossas melhores relações e tenho a certeza de que esta visita do Presidente da República vai ser excelente", afirmou António Costa, em declarações captadas pela SIC Notícias, à margem da sua participação no programa de entretenimento de Cristina Ferreira.
O primeiro-ministro preferiu destacar a "relação secular" entre os dois países, considerando que o recente problema com Angola - relacionado com o processo judicial do ex-vice-presidente do país Manuel Vicente - "está ultrapassado".
"Acho que esta visita só pode correr bem, ainda por cima com o jeito natural que o Presidente tem para o encontro entre povos. Vai ser seguramente uma visita histórica e memorável para as relações entre Portugal e Angola, só desejo ao Presidente da República as maiores felicidades nesta visita", referiu.
O Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, chega esta quarta-feira à tarde a Luanda, para uma visita de Estado de quatro dias a Angola que começa oficialmente na quarta-feira e se estende às províncias de Benguela e Huíla.
Questionado sobre as posições não coincidentes transmitidas na segunda-feira pelos ministérios dos Negócios Estrangeiros português e angolano sobre um alegado pedido de desculpas de Lisboa a Luanda pelos incidentes ocorridos no bairro Jamaica, António Costa preferiu centrar-se no programa de realojamento em curso.
"Acho que há coisas que não vale a apenas estarmos a alimentar e sobretudo não devemos desfocar, em relação ao bairro Jamaica, aquilo que é essencial, que é o programa que está a ser feito com a Câmara do Seixal, e que em dezembro passado teve um momento importante com o realojamento das primeiras 64 famílias, que é o esforço comum que temos de fazer para assegurar a toda a população que vive em Portugal condições de habitação condignas, de boa inserção social, porque isso é a melhor forma de resolver e prevenir quaisquer tipo de conflitos", afirmou.
Na segunda-feira, o ministro das Relações Exteriores de Angola, Manuel Augusto, referiu-se ao caso, numa conferência de imprensa realizada em Luanda, destinada a fazer o lançamento da visita a Angola de Marcelo Rebelo de Sousa, salientando que se manteve em contacto com o homólogo português, Augusto Santos Silva.
"Teve a hombridade de me ligar, não só para apresentar desculpas, mas também para sublinhar a forma, com sentido de Estado, como as autoridades angolanas reagiram", disse Manuel Augusto.
Contudo, num esclarecimento enviado horas depois à Lusa, o gabinete de Augusto Santos Silva nada reconhece sobre o alegado pedido de desculpas de Portugal, confirmando apenas que os chefes da diplomacia dos dois países "falaram por telefone", por iniciativa de Augusto Santos Silva, "logo após os incidentes do bairro da Jamaica", em 20 de janeiro.
Acrescenta que os dois ministros abordaram depois o mesmo tema em 15 de fevereiro, em Luanda, "quer na reunião bilateral, quer na conferência de imprensa conjunta", mas sublinhando que "em ambas as ocasiões", a mensagem do Ministério dos Negócios Estrangeiros português "foi sempre a mesma".
Passou por "lamentar a ocorrência daquele incidente", por "agradecer a forma como as autoridades angolanas - quer a embaixada em Lisboa, quer o Ministério do Interior - reagiram" e ainda por "comunicar que Portugal manteria Angola informada dos desenvolvimentos e conclusões dos inquéritos em curso".
Em causa está o incidente entre moradores angolanos daquele bairro, no concelho do Seixal, e a polícia, ocorrido em 20 de janeiro e que deu origem depois a uma manifestação realizada em Lisboa, em que se registaram incidentes entre manifestantes e polícias.
Os incidentes naquele bairro do distrito de Setúbal foram alvo de um inquérito entretanto aberto pelo Ministério Público.