Depois da cautela com que o PS reagiu às primeiras críticas ao programa do Governo 'Mais Habitação', Carlos César não esconde o desconforto com as mais recentes declarações do Presidente da República ao Correio da Manhã e aponta a Marcelo Rebelo de Sousa uma falta de "equilíbrio" entre a crítica e a "cumplicidade institucional" com que tem pautado a relação com o Governo.
Em declarações à Renascença, o presidente do PS diz que Marcelo, "por vezes, porventura sem se aperceber, tem prestado menos cuidado a algo que sempre acautelou nestes anos: o equilíbrio que o Presidente da República deve cultivar do sentido crítico com a cumplicidade institucional".
Na cúpula do PS as críticas insistentes do Presidente da República têm sido vistas como uma prova de vida neste segundo mandato em que existe uma maioria absoluta e como "arrufos". Os socialistas têm mesmo evitado entrar em confronto com Marcelo depois de este ter classificado essa maioria como "requentada" e após as repetidas críticas ao programa para a Habitação.
Carlos César, com esta declaração à Renascença, afasta a ideia de que a relação entre o Governo e o Presidente da República esteja estragada, mas nota em Marcelo uma nova fase nessa relação pautada pela falta de "equilíbrio" entre a crítica e a "cumplicidade institucional" que tem sido a marca dos últimos anos.
Mas não é só ao Presidente da República que Carlos César aponta o dedo. O dirigente socialista, um dos principais conselheiros do primeiro-ministro António Costa, deixa recados ao próprio executivo a quem aconselha a "continuar a trabalhar e a fazê-lo de melhor forma".
"Acho que o Governo, pelo seu lado, deve continuar a trabalhar, e a fazê-lo de melhor forma, e não se envolver em atos ou considerações que afetem esse valor que tanto contribui para a estabilidade da nossa democracia", afirma Carlos César.
Avisos à navegação que o presidente do PS tem, de resto, feito repetidas vezes, sendo que em dezembro chegou a escrever na rede social Facebook que "feitas as contas... está a valer a pena a escolha que os portugueses fizeram nas últimas eleições. Mas, mais atenção e mais proatividade do Governo só lhe farão bem... e a todos nós!".
Com as declarações à Renascença, o presidente do PS coloca também um travão a eventuais impulsos vindos do próprio Governo - e já agora do partido da maioria - para responder às críticas diretas do Presidente da República.
Marcelo já repetiu em entrevista à RTP e ao Público que não renuncia "ao princípio" de dissolver o Parlamento e o presidente do PS insiste que o partido e o Governo não podem dar o flanco ou dar razão a Marcelo nas críticas que faz, sobre Habitação ou sobre qualquer outro tema. Ou seja, não há licença para falhar, em nome da "estabilidade".