A capacidade do Pavilhão Municipal Manuel Castel Branco, à Graça, ficou esgotada na primeira noite.
Metade do pavilhão está ocupado com tendas de campanha, muitas mantas vermelhas, almofadas e, pelo meio, aquecedores de esplanada que ajudaram a passar a noite. Ao fundo, mesas e cadeiras de plástico onde vai ser servido o pequeno almoço e, numa das laterais, um banco de roupa - porque sobretudo nesta altura dá jeito mais um agasalho.
O coordenador do Núcleo de Planeamento e Intervenção da Pessoa em Situação de Sem Abrigo (NPISA) da Camara Municipal de Lisboa, revela que "o dispositivo é muito mais do que este espaço".
"Para além desta, há outras respostas na cidade de Lisboa, como os centros que funcionam 365 dias por ano que tiveram vagas extra. E para esses locais foram encaminhadas 13 pessoas", explica Paulo Santos.
O plano prevê a criação de sete pontos de concentração, localizados no Rossio, Intendente, Saldanha, Gare do Oriente, Santa Apolónia, Cais do Sodré e Alcântara.
E até dia 29, dia em que termina este plano de contingência, as estações de metro do Rossio, Santa Apolónia e Oriente permanecerão também abertas à população em situação de sem-abrigo das onze da noite às seis e meia da manhã.
No Pavilhão Municipal Manuel Castel Branco começam a acordar os primeiros utentes.
A maioria dos que passaram ali a noite - dois terços dos quais imigrantes - fazem a sua higiene, tomam o pequeno almoço e deixam as instalações, para voltarem ao fim da tarde, a partir das 18 horas, para poderem usufruir de refeições quentes, agasalhos e um local para dormir.
Antes de entrar, fazem um percurso por alguns serviços que lhes são disponibilizados.
"Quando chegam têm logo aqui uma triagem ao nivel da saúde, com cuidados básicos, pensos e medição da tensão.
Também temos a possibilidade de fazerem rastreios de hepatite ou VIH, se assim o entenderem. E temos uma parte muito importante deste processo, que é o atendimento social destas pessoas", indica o coordenador do Núcleo de Planeamento e Intervenção da Pessoa em Situação de Sem Abrigo.
Ainda fazem uma pequena entrevista, para verificar a situação individual de cada um e, a partir daí, tentam satisfazer a necessidade de cada pessoa.
"Seja uma resposta de alojamento ou outra, que faça sentido", diz Paulo Santos.
Começam a servir os pequenos-almoços. Atrás de uma fila de mesas de esplanada, todas juntas, está Afonso Serrano, um jovem na casa dos 20 anos, voluntário. De luvas de látex nas mãos, fecha dois grandes termos com chá e café, prontos a servir.
É estudante universitário, vive na Amadora, mas passou toda a noite junto dos elementos do NPISA, no acolhimento das pessoas em situação de sem abrigo.
"Tenho um familiar que sempre trabalhou na área social, o que me fez estar ligado a este tipo de atividade. Mas é sobretudo a satisfação em poder ajudar alguém que necessita".