A Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) está preocupada com a crise dos cereais provocada pela guerra na Ucrânia e, em declarações à Renascença, o secretário-geral da organização alerta que o Governo não entregou ainda os apoios prometidos.
Luís Mira espera que os incentivos para a produção de cereais anunciados pela ministra da Agricultura sejam elevados, uma vez que estão a haver aumentos nos custos de produção.
“Com os preços que os cereais estão a atingir agora, com os custos que eles têm, também, em termos de combustíveis, em termos de adubos, tem que ser uma verba muito significativa para ser incentivadora”, defende.
“Quando os preços estão em 200 ou 300 euros por tonelada, alguns, mais do que isso, quase 400 euros, para incentivar a fazer cereais, não sei quanto é que ela [ministra da Agricultura] está disponível para dar”, sublinha secretário-geral da CAP.
Portugal produz atualmente 18% dos cereais que consome e o objetivo é aumentar até 38%.
De visita a Leiria, no passado sábado, a ministra da Agricultura adiantou que Portugal tem uma estratégia para mais que duplicar a produção nacional de cereais que os portugueses consomem, acreditando que não haverá escassez do produto no país.
Segundo a governante, o objetivo é “aumentar a autonomia estratégica”, que acredita ser possível “através de um conjunto de investimentos” que irão “estimular os agricultores a fazer, seja do ponto de vista da inovação, do desenvolvimento tecnológico, para melhorar a qualidade dos solos, que são pobres, seja para a disponibilização de água”, para haver “cereais regados”.
O Governo irá ainda disponibilizar um apoio financeiro “para que estes produtores possam fazer esta opção quando tiverem que fazer as suas sementeiras”.
Na última noite, o chefe da diplomacia americana confirmou a tese de que a Rússia está a roubar cereais ucranianos para fazer chantagem com o mercado internacional.
Também o presidente ucraniano já tinha alertado para a situação. De acordo com Volodymyir Zelenskiy, entre 20 e 25 milhões de toneladas de cereais estavam bloqueadas por causa da guerra e defendeu a criação de corredores marítimos, referindo que está em negociações com a Turquia, Reino Unido e ONU.
A Ucrânia, que antes da guerra com a Rússia era o quarto maior exportador mundial de trigo e milho, também está em conversações com a Polónia e os países bálticos para a exportação de pequenas quantidades de cereais por ferrovia, explicou também Zelenskiy.