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O Bangladesh está a tentar controlar a propagação do Coronavírus, sobretudo através da manutenção de medidas de distanciamento social, confinamento e quarentena. O país não tem capacidade para fazer muitos testes. No dia 19 de agosto, segundo dados oficiais, havia 285.091 pessoas infetadas, entre elas 165.738 recuperados e 3.781 óbitos. A Covid-19 tem-se espalhado muito depressa.
A manter-se esta tendência, milhares de pessoas serão contaminadas e a taxa de mortalidade será muito alta em todo o país, muito em breve. Na minha diocese de Barisal já se registaram mais de milhares de casos de infeção. A diocese é composta por 11 distritos e em cada distrito temos seis paróquias e duas semi-paróquias. Todos os distritos têm infetados.
Mal começou a pandemia a diocese tentou estar com as pessoas para ajudar a evitar a propagação do vírus. A cúria diocesana procurou o conselho de especialistas médicos e tem agido em conformidade, comprando alguns medicamentos e material de proteção pessoal no mercado local e enviando-os para cada paróquia para que os religiosos e o pessoal paroquial os possam usar. Com estes equipamentos os párocos sentem-se seguros para responder aos pedidos dos doentes, podendo fornecer os sacramentos a quem precisa e a realizar enterros. As religiosas podem também realizar partos e outros cuidados de saúde, sem preocupação de estarem a espalhar o vírus. Estamos ainda a fornecer medicamentos a quem sofre do vírus gripal.
Para além da infeção viral, os pobres sofrem de uma crise alimentar. Na maioria trabalham à jorna e uma vez que se encontram de quarentena não podem ir trabalhar para poder comprar comida. Agora estamos a ter o mesmo problema com os trabalhadores das fábricas de roupa. Como não podem ir trabalhar, não recebem o salário. Os agricultores e pequenos comerciantes também estão em dificuldades porque não podem vender os seus produtos, uma vez que não têm transporte.
Sem rendimento, estes e as suas famílias estão a passar fome. Os padres estão em contacto eletrónico com os líderes das paróquias, mas também precisam de os visitar para distribuir bens de primeira necessidade e prestar apoio espiritual.
A diocese tem fornecido cinco quilos de arroz, 250 gramas de lentilhas, 200 gramas de batatas e 500 gramas de óleo alimentar, entre outros, para as famílias em necessidade mais extrema. As nossas freiras embalam estes bens e os irmãos e padres transportam-nos para as diferentes paróquias. Algumas destas paróquias são de indígenas. São sobretudo jornaleiros que não podem ir trabalhar para ganhar o seu sustento diário. Pertencem sobretudo às tribos Rakhine, Bromon e Tripura. O clero e os irmãos e irmãs religiosos têm-nos visitado durante a pandemia e dado apoio financeiro. Uma vez que o clero e os religiosos visitam os doentes, pobres e necessitados, precisam de equipamento de proteção pessoal e de cuidar de si mesmos com desinfetante e sabonete.
Apesar de sermos apenas 0,2% da população do Bangladesh, os católicos gerem uma rede de escolas de altíssima qualidade, que serve milhares de alunos de todas as religiões. Agora os empregados estão a ligar para os diretores das escolas, que são religiosos ou clero, a pedir o seu ordenado, mas como não há aulas não temos cobrado propinas. A última vez que as escolas receberam dinheiro foi em janeiro, alguns em fevereiro, e ninguém recebeu em março ou abril. Os professores e empregados, e as suas famílias, estão a passar grandes dificuldades.
Apesar de tudo, o Governo começou agora a reabrir os transportes e alguns negócios, para fortalecer a economia do país. Mas o resultado é que as taxas de infeção aumentaram muito rapidamente, o que augura um futuro de perigo e possível desastre sanitário.
*Lawrence Sobrato Howlader é bispo de Barisal, no Bangladesh. Este postal foi retirado de uma candidatura a um financiamento que o bispo enviou à fundação Ajuda à Igreja que Sofre. Quem quiser ajudar este ou outros projetos pode contactar diretamente a fundação.