O Papa lamenta o fracasso da ONU perante a atual guerra na Ucrânia e outros conflitos, numa entrevista divulgada pela agência Télam, da Argentina.
“Após a II Guerra Mundial, havia muita esperança nas Nações Unidas. Não quero ofender, sei que há gente muito boa que trabalha, mas neste momento não tem poder para impor-se”, realça Francisco.
Após evocar crises que se arrastam há muitos anos, como na Síria, Líbano ou Myanmar, o Papa sustenta que falta à ONU “poder” para “resolver uma situação de conflito” como a que se vive na Europa.
“Neste momento, são necessárias coragem e criatividade. Sem essas duas coisas, não teremos instituições internacionais que nos possam ajudar a superar estes graves conflitos, estas situações mortais”, acrescenta.
“Na guerra não se dança o minueto, mata-se. É uma crueldade diária”, lamenta o Papa. Francisco refere-se ao conceito de guerra justa como “o direito de se defender”, mas considera que “a forma como o conceito é usado hoje deve ser repensada", pois o primeiro passo “é saber ouvir-se a si mesmo para depois poder dialogar e assim dissipar qualquer possibilidade de chegar aos conflitos”.
Outra das preocupações do Santo Padre é a falta de ajuda relacionada com a pandemia nos países africanos que, permanecem sem vacinas suficientes.
“Alguma coisa não funcionou”, desabafa Francisco. “E usar a crise para proveito próprio é sair mal e, sobretudo, sair dela sozinhos”. No fundo, “isto é tudo uma ilusão porque não há salvação parcial, económica, política ou de alguns setores do poder”, adverte o pontífice.
Uma retrospetiva dos 10 anos de pontificado
Em março de 2023 Francisco assinala 10 anos de pontificado, pretexto para um breve comentário sobre o seu estilo de ser Papa.
”No fundo, juntei tudo o que os cardeais disseram nas reuniões do pré-conclave. Não acho que tenha havido nada de original da minha parte", admite Bergoglio.
Sobre a nova Constituição Apostólica “Praedicate Evangelium”, o Papa recorda o resultado de oito anos e meio, insistindo em não querer “registrar toda a paternidade do documento”, pois, “estas ideias não são minhas, são as ideias do Colégio dos Cardeais que o pediram”.
Já quanto à sua eleição para Papa, comenta: "Bergoglio nunca teria imaginado acabar aqui, nunca”. Recorda que chegou ao Vaticano “com uma maleta, com a roupa que tinha vestida e pouco mais e até tinha deixado em Buenos Aires a homilia para o domingo de ramos”.
E acrescenta, sobre si próprio, com sentido de humor: “Coitado, o que havia de te acontecer!... Mas não é assim tão trágico ser Papa. Até se pode ser um bom pastor!”
No final da entrevista, a jornalista Bernarda Llorente pergunta-lhe até quando teremos o Papa Francisco. A resposta não se faz esperar: "Deixemos que seja Ele lá em cima a dizê-lo”.
[atualizado às 17h49]