São fotografias de artistas da dança e do teatro português que marcaram as décadas de 1920 e 1930. Estavam guardadas longe do olhar do público e são agora reveladas na exposição “Corpos Modernos do Palco”, patente no Museu Nacional do Teatro e da Dança (MNTD), em Lisboa, até 13 de março.
Com curadoria de Paulo Ribeiro Baptista, esta exposição dá a conhecer 26 retratos de grande formato feitos Silva Nogueira. O novo diretor do MNTD refere a importância deste fotógrafo, cujo trabalho é desconhecido do grande público.
Em entrevista à Renascença, Nuno Moura explica que Silva Nogueira “tem algumas fotografias muito conhecidas, nomeadamente da década de 1940 de Amália Rodrigues e Salazar”, contudo, diz este responsável, “o início do seu trabalho de retratista estava menos evidente para o grande público”.
O espólio fotográfico que está à guarda da Direção-Geral do Património Cultural foi agora trabalhado e tornado público. “Era alguém que, apesar de ser muito discreto na sua vida pessoal, era brilhante na sua profissão”, refere Nuno Moura.
Nas palavras do diretor do MNTD, Silva Nogueira “conseguiu, através de muito trabalho, de muito apuro técnico e formal, muito talento, criar imagens idealizadas das estrelas do palco. Parece que os atores e as bailarinas brilham e emanam luz”.
Exemplo disso são retratos como os de Beatriz Costa ou Francis Graça, mostrados nesta exposição que revela um fotógrafo pioneiro do retrato modernista em Portugal. Silva Nogueira terá ido beber conhecimento a “outros fotógrafos europeus e internacionais”, sublinha Nuno Moura nesta entrevista ao programa Ensaio Geral.
“É um fotógrafo que tem cerca de 10 mil fotografias. Ele eternizou praticamente toda a gente que passava pelos palcos portugueses nessa altura”, explica o diretor do MNTD que dá exemplos. “Temos cabeças de cartaz como a Beatriz Costa, do teatro popular; uma Brunilde Júdice do lado do declamado; uma Corina Freire que, entretanto, caiu em esquecimento, mas que teve uma carreira internacional e que em França trabalhou com Maurice Chevalier e Josephine Baker e que usou o trabalho do Silva Nogueira para criar essa imagem mais cosmopolita e internacional”.
A estes retratos acrescem outros do mundo da dança. “Temos Francis Graça que virá mais tarde a ser muito importante na criação dos bailados portugueses Verde Gaio; temos a Luísa Satanela, que era outra vedeta da altura do teatro de revista e teatro musicado”, exemplifica Nuno Moura sobre esta exposição de Silva Nogueira.
Museu do Teatro e da Dança desconfina
Depois das obras e ter fechado devido à pandemia, o MNTD entra em 2022 numa etapa de desconfinamento. A nova direção de Nuno Moura pretende imprimir àquele espaço uma nova dinâmica expositiva e de atividades.
Desde logo, a exposição de Silva Nogueira vai, depois de março viajar até ao Porto. Entre abril e junho será mostrada ao público no Centro Português de Fotografia. No regresso do Porto, como diz Nuno Moura, o MNTD traz para Lisboa uma exposição do Porto.
“Em março, vamos fazer uma retrospetiva da companhia de teatro profissional mais antiga em Portugal. Vamos mostrar alguns aspetos mais importantes do Teatro Experimental do Porto. Estamos a falar de 70 anos de uma companhia que foi fundamental para a revolução estética do teatro em Portugal, principalmente pelas mãos de António Pedro, o seu primeiro diretor. Será interessante ver estes estes 70 anos e ver o que está a ser feito agora pelo atual diretor, o Gonçalo Amorim”, explica Nuno Moura.
Na programação pensada pelo novo diretor do MNTD estão também previstas uma homenagem a Francis Graça, “uma pessoa fundamental para a renovação do bailado e do teatro musicado em Portugal”; e a recuperação de algumas iniciativas ligadas ao centenário de Amália Rodrigues – cuja programação foi muito afetada pela pandemia.
Nesta entrevista, o novo diretor do museu indica ainda que haverá outra exposição de fotografia de cena “em torno dos anos 1980” e antes do final de 2022, irão realizar, “em conjunto com a Companhia Nacional de Bailado (CNB)” uma exposição dedica a Armando Jorge, o primeiro diretor artístico da CNB.
Mas a grande aposta do Museu do Teatro é uma exposição dedicada ao pai do teatro português. Nos 500 anos de Gil Vicente, o MNTD irá, em conjunto com Espanha organizar uma exposição dedicada ao autor do Auto da Barca do Inferno.