O número de mulheres assassinadas este ano pelos maridos, companheiros ou familiares aumentou em 2018. De acordo com dados do Observatório de Mulheres Assassinadas, divulgados esta quinta-feira, até 20 de novembro deste ano, 24 mulheres foram mortas, mais seis do que no ano passado, outras 16 sofreram atentados contra a sua vida mas conseguiram sobreviver.
Este ano, o grupo etário que registou o maior número de vítimas mortais foi o das mulheres com mais de 65 anos, seguido da faixa etária entre os 36 e os 50 anos. No que se refere a tentativas de homicídio, registou-se uma diminuição, passando de 23 em 2017 para 16 este ano.
Contudo, aponta a organização no seu relatório, o "número pode não corresponder à totalidade das tentativas efetivamente ocorridas, mas tão só às noticiadas", havendo, em 2018, alguns meses em que não foram noticiadas quaisquer tentativas de femicídio. Janeiro foi o mês no qual se registaram mais homicídios de mulheres, num total de cinco casos, seguindo-se março, abril e junho, nos quais houve quatro crimes.
Violência doméstica é o primeiro passo para o homicídio
Os dados disponíveis permitem ao Observatório estabelecer uma relação entre este tipo de homicídios e a violência doméstica exercida contra as mulheres na conjugalidade ou, em sentido mais abrangente, nas relações de intimidade.
"Verifica-se que o homicídio das mulheres ocorre em todo o seu ciclo de vida, com particular incidência nas mulheres mais velhas", lê-se no relatório. "O assassinato de mulheres relaciona-se com as questões de género e com a violência que, nas sociedades patriarcais, é exercida contra elas."
Da análise dos dados, é possível registar que, apesar de serem os homens as principais vítimas do crime de homicídio em geral, estes são assassinados por outros homens, no espaço público e em contexto societal diverso, por pares, conhecidos ou desconhecidos. O homicídio das mulheres, pelo contrário, ocorre, na maioria das vezes, nas suas casas e nas relações de intimidade presentes ou passadas, ou seja, cometido "por pessoas suas conhecidas e com quem mantêm ou mantiveram uma relação íntima".
Leiria, Setúbal e Lisboa foram os distritos com mais mortes
Os dados permitem ainda concluir que a violência doméstica contra as mulheres está presente em muitas das situações de morte violenta, ou seja, é identificada a existência de um contexto violento prévio, um contínuo de violência que, em muitas das situações era do conhecimento de terceiros, sejam vizinhos, amigos ou familiares.
Quanto à incidência por distrito, Leiria surge, este ano, em primeiro lugar, com seis mortes, seguido de Setúbal com quatro e de Lisboa com três.
O Observatório da União de Mulheres Alternativa e Resposta destaca ainda que as armas brancas foram a mais utilizadas para a prática do crime (42% das vezes), seguindo-se as agressões com objetos.
O uso de arma de fogo, que em anos anteriores era o meio mais utilizado para matar mulheres, caiu significativamente, tendo sido utilizada em 13% dos 24 femicídios registados. Segundo informação recolhida através de notícias, foi possível identificar que em 58% dos homicídios consumados - 14 dos 24 - a medida de coação aplicada aos suspeitos foi a de prisão preventiva.