Horário das carrinhas de metadona em Lisboa reduzido para metade por falta de verbas
28-03-2024 - 15:19
 • Lusa

A partir de abril, as carrinhas de distribuição de metadona em Lisboa vão reduzir o horário de funcionamento para metade por falta de verbas.

As carrinhas de distribuição de metadona em Lisboa vão reduzir a partir de abril o horário de funcionamento para metade por falta de verbas, o que pode afetar os cerca de 1.300 utentes que são acompanhados diariamente.

O alerta foi feito esta quinta-feira à agência Lusa por Elsa Belo, diretora técnica da Ares do Pinhal, associação dedicada à recuperação de toxicodependentes que tem duas unidades móveis, uma a funcionar na zona oriental de Lisboa (Lumiar, Bela Vista e Santa Apolónia) e a outra na zona ocidental (Avenida de Ceuta e Praça de Espanha).

"Chegou o momento de termos que pôr um travão, o que nos custa horrores, mas não temos outra alternativa", lamentou Elsa Belo. .

A associação está a distribuir aos utentes uma folha com a informação que, "face ao orçamento atual disponibilizado para a implementação do Programa Substituição em Baixo Limiar de Exigência" é obrigada "a fazer uma readaptação dos horários de funcionamento" das carrinhas, que a partir de 08 de abril, passam a funcionar apenas no período da manhã.

Elsa Belo adiantou que o programa de manutenção de metadona da cidade de Lisboa, que funciona 12 horas por dia, todos os dias do ano, tem o mesmo orçamento anual, atribuído por concurso público, desde 2006, "apesar dos sucessivos pedidos de revisão, de apoio, que a associação tem feito aos serviços competentes".

"A associação foi sempre fazendo todos os possíveis para pôr todos os meios no terreno e para nunca deixar que o programa perdesse qualidade, muito pelo contrário, até trabalhamos sempre no sentido de aumentar a qualidade da resposta, mas chegámos agora a um ponto que não conseguimos mais", lastimou.

Para demonstrar como o orçamento está desatualizado, lembrou que, quando o programa começou, o ordenado mínimo nacional era de 476 euros e atualmente é de 820.

"Por esta diferença e pelo aumento dos combustíveis e tudo mais entende-se que é impossível nós operarmos com o mesmo valor que tínhamos em 2006", vincou, defendendo que estes projetos têm que "acompanhar a inflação" porque de outra maneira não se consegue ter "salários dignos", dar condições às pessoas e ter as horas de enfermagem na rua necessárias.

Devido a esta situação, disse, "tivemos de fazer esta redução e vamos concentrar os utentes mais no período da manhã".

"É claro que isto vai ser terrível porque há pessoas que não estão organizadas e que nos procuram à tarde e não vão conseguir ter resposta", disse.

Segundo Elsa Belo, está a ser feito um levantamento das pessoas que trabalham e apenas podem deslocar-se à carrinha ao fim do dia.

"Serão cerca de 60 a 70 pessoas", disse, revelando que a associação está em conversações com a equipa de tratamento, com a ajuda do Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências (ICAD) e com os diretores dos centros de respostas integradas, no sentido de poderem dar resposta a estas pessoas que passará por serem acompanhadas nos programas de "alto limiar". .

"A situação é grave e causa uma enorme angústia nas equipas (...) e os utentes sentem-se perdidos porque nós não estamos a falar de pessoas extremamente organizadas que conseguem depois arranjar outras respostas", salientou.

Por outro lado, a associação também teve "de dispensar colaboradores, uma coisa também muito violenta".

Além disso, vai ter que limitar o número de pessoas que vão entrar no programa: "É humanamente impossível e nem imagina a ginástica destes anos todos para conseguir assegurar os serviços com qualidade, com o mínimo de qualidade e que seja uma resposta digna que tire da rua o problema o mais possível, que diminua a criminalidade e diminua ainda mais a exclusão social, mas realmente chegámos ao nosso limite", rematou.

Questionada se tem havido um aumento de utentes, Elsa Belo afirmou que sim, até porque "as outras entidades não conseguem dar uma resposta imediata" e encaminham as situações para a associação.

"Por exemplo, aparece uma pessoa com consumos num hospital que necessita do internamento somos nós que damos resposta a essas situações nos programas de baixo limiar. Nós é que vamos ao hospital levar metadona (...) somos nós que articulamos com a equipa médica quando esta situação devia estar a ser respondida pelas equipas de tratamento, ou seja, pelo serviço público", mas que também "está desfalcado na área das dependências".