A estratégia russa de aproximação à China pressupõe a "destruição das democracias europeias", aponta Carlos Gaspar, do Instituto Português de Relações Internacionais.
Em entrevista à Renascença, o investigador argumenta que enquanto a Rússia estiver "numa linha de convergência e num quadro de aliança com a China, qualquer ideia de que a Rússia vai regressar à Europa é uma ilusão".
"As elites russas não são a favor dessa linha estratégica. Jogaram a fundo e, de certa maneira, foram longe demais no percurso de convergência com a China para a criação de uma grande Eurásia. É um projeto estratégico alternativo ao projeto europeu. É um projeto [que] para poder sobreviver tem de destruir a União Europeia e a unidade das democracias europeias."
Carlos Gaspar considera ainda que, neste momento, "nem a Rússia, nem a Ucrânia estão preparadas para negociar". "E não estão preparadas para negociar, porque nem Kiev, nem Moscovo desistiram de ganhar a guerra."
"Nem a Ucrânia, nem o Presidente ucraniano, nem o Presidente russo estão em condições de perder a guerra nessa situação. Nestas circunstâncias, não há mediação que nos valha", lamenta o investigador.
Após um ano de guerra, a Rússia não apresenta quaisquer sinais de cedência ou de reaproximação ao espaço europeu. Ainda no sábado passado, a Rússia anunciava o corte de fornecimento de petróleo à Polónia, um dia depois de a União Europeia ter aprovado o 10.º pacote de sanções a Moscovo.
No minuto de silêncio em memória das vítimas da invasão russa, na sessão do Conselho de Segurança da ONU da passada sexta-feira, o embaixador russo, Vasily Nebenzya, não se levantou e começou a bater na mesa, pedindo um momento para as vítimas "caídas desde 2014", ano em que a Rússia lançou uma ofensiva no leste da Ucrânia - e anexou a província da Crimeia.