Paulo Portas afirmou este domingo que Passos Coelho "dava a entender que achava que a troika era um bem virtuoso", enquanto o ex-líder do CDS via a intervenção do FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu como "um mal necessário". O antigo primeiro-ministro do PSD disse, numa entrevista na passada segunda-feira, que a troika perdeu a confiança em Portas porque "percebeu que havia um problema com o CDS".
"Eu nem achei apropriado, nem achei justo", declarou Paulo Portas no habitual espaço de comentário na "TVI" sobre a entrevista de Pedro Passos Coelho, sublinhando que não vai entrar "numa polémica pessoal". "Estamos em 2024, acabou de chegar um governo de centro direita, não vejo qual seria a utilidade de contribuir para essa polémica".
O antigo vice-primeiro-ministro sublinhou visões diferentes sobre a troika, mas realçou que "nunca houve desentendimentos no essencial" - que definiu como "resolver o problema da falência de Portugal, cumprir o Memorando de Entendimento da troika que não tínhamos negociado, procurar encontrar uma saída limpa, se fosse possível, e na última parte da legislatura procurar balancear mais política económica com política financeira".
As diferenças? "Às vezes, o dr. Pedro Passos Coelho achava, ou dava a entender que achava que a troika era um bem virtuoso, eu achava a troika um mal necessário. Mal porque não gosto de estrangeiros a darem opiniões e a tomarem avisos sobre leis portuguesas, orçamentos portugueses, mas nós é que nos tínhamos colocado nessa situação," afirmou.
"Não raramente o dr. Pedro Passos Coelho usava aquela expressão do ir além da troika. Eu sempre fui mais cético sobre essa ideia, embora também seja justo dizer que essa ideia se aplicava sobretudo a reformas e não a medidas. Mas para mim, para aguentar aquele programa, que resolvesse a falência de Portugal e nos permitisse recuperar a nossa normalidade, era preciso coesão social na sociedade portuguesa, era preciso que as pessoas sentissem que os sacrifícios eram equitativos, que as restrições eram distribuídas e não passavam um certo limite", esclareceu Paulo Portas.
"Acho que o tempo me deu razão"
O antigo governante confessou que a possibilidade de aplicação de uma Taxa Social Única sobre as pensões "foi um dos momentos difíceis" do governo de coligação PSD/CDS entre 2011 e 2015. Contudo, considera que o tempo lhe deu razão.
"A medida vinha como medida estrutural, portanto obrigatória de cumprimento, e condição de acesso a financiamento. Depois dessa tensão, que foi de facto dura, essa medida passou para opcional, e deixou de ser condição de financiamento", relatou Paulo Portas, que em 2013 disse que não aceitaria uma taxa de sustentabilidade sobre as pensões.
"Eu que a achava uma penalização dupla sobre os pensionistas e achava que isso passava os limites, e ia criar a ideia nos idosos de que estavam a ser escolhidos como alvo de um programa, eu acho que o tempo me deu razão", declarou o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, acrescentando que "seis meses depois, dessa medida passar de estrutural para opcional, e só usada em último recurso, fui eu e a ministra das Finanças que dissemos que a medida já não era necessária", pelo que "provavelmente era exagerada".
Sobre a necessidade de assinar cartas para a troika, Paulo Portas afirmou que não tem "nenhum problema em assinar cartas para a troika quando acho e tenho a certeza que estou a servir o interesse nacional".
No fim, voltou a considerar os comentários de Passos Coelho escusados. "Como dizia o outro, não havia necessidade", atirou.
[notícia atualizada às 22h39]