Obstrução à Justiça. Foi um dos argumentos utilizados em dois dos mais conhecidos processos de impugnação - de Bill Clinton e Richard Nixon - instaurados a presidentes dos Estados Unidos. A colocação de entraves a que seja conduzida investigação judicial é, precisamente, a suspeita de que é alvo Donald Trump, por ter despedido o director do FBI.
James Comey confirmou que a Rússia interferiu na campanha eleitoral norte-americana para beneficiar Donald Trump e estava a investigar eventual ligação entre Moscovo e a campanha do actual Presidente.
As suspeitas de que a saída de Comey se deveu a uma vontade de impedir a justiça de seguir o seu curso adensaram-se depois das ameaças de Trump sobre uma eventual divulgação das conversas entre os dois.
Através do Twitter, Trump deixou uma mensagem dúbia ao ex-director do FBI – que se prepara para falar sobre a dispensa – acerca da comunicação entre ambos.
Na segunda-feira, o jornal “The Washington Post” avançou com a informação de que o Presidente norte-americano terá partilhado informação “altamente secreta” com o ministro dos Negócios Estrangeiros e com o embaixador russo em Washington.
A alegada proximidade da administração Trump à Rússia é assunto que não sai das manchetes dos jornais nem das colunas de opinião.
Robert Reich escreve na revista Newsweek que o despedimento de Comey é o “princípio do fim de Trump”. O historiador é categórico e relembra que a obstrução à justiça configura uma “violação clara da lei” e é matéria mais do que suficiente para dar início à investigação que poderá fazer avançar o processo de impugnação. No limite, poderá implicar a destituição de Donald Trump.
Reich não é o primeiro a comparar Trump a Nixon. Outros defensores da destituição do actual Presidente dos EUA já o fizeram. Richard Nixon foi impugnado por acusações à violação da Constituição relacionadas com o processo “Watergate” – e também fundamentadas na premissa de que impediu a Justiça de investigar. Já Bill Clinton – para quem Reich trabalhou - também foi alvo de um processo de impugnação, mas foi ilibado das acusações no Congresso.
Reich assevera que motivos para destituir Trump não faltam, mas duvida dos membros partido pelo qual foi eleito – não sabe se existem republicanos mais leais à América do que ao Partido Republicano.
É uma dúvida que Ron Fein não tem em relação à matéria que justifique avançar para o processo de impugnação. Desde o dia da tomada de posse que o movimento “Impeach Trump Now” de que faz parte quer impugnar o Presidente por, alegadamente, violar uma cláusula da Constituição norte-americana (cláusula dos emolumentos) que impede o chefe de estado de receber pagamentos de Estados ou líderes estrangeiros.
Entrevistado pela Renascença, em Abril, Ron Fein, da Free Speech For People, uma das organizações que dinamiza o processo de impugnação, explicava que a campanha de destituição de Trump se baseia na defesa do princípio de que “ninguém está acima da lei, nem o Presidente”.
O processo de impugnação só poderá avançar com uma maioria de votos a favor da Câmara dos Representantes, que tal como o Congresso, são republicanos. E é neste ponto que os argumentos de Fein e Reich se tocam.
Para Ron Fein, a destituição será uma inevitabilidade porque até os membros do Partido Republicano “vão chegar a um momento em que vão estar fartos de Trump”.
O momento parece estar a chegar, mas dificilmente Trump será um “novo” Nixon, acredita Ron Fein: “Nixon tinha um sentimento da sua própria dignidade e um desejo de evitar passar pela vergonha de se tornar alvo do ridículo. Penso que Trump não partilha desse sentimento.”