O administrador de empresas Rui Mão de Ferro, arguido no processo Operação Marquês, negou esta terça-feira em tribunal ter sido usado como 'testa de ferro' de Carlos Santos Silva e José Sócrates, limitando-se a dizer que cumpriu ordens.
No interrogatório da fase de instrução do processo Operação Marquês, fonte ligada ao processo disse que Rui Mão de Ferro reiterou o que já havia alegado no requerimento da abertura de instrução e que continua a negar ter cometido qualquer ilícito, recusando ter qualquer envolvimento no esquema apontado pelo Ministério Público (MP), e defendendo que se limitou a cumprir ordens de Carlos Santos Silva.
O arguido, ainda segundo a mesma fonte, garantiu que não conhecia o ex-primeiro ministro, tendo estado apenas uma vez com ele, mas que sabia que Carlos Santos Silva e José Sócrates eram amigos.
O Ministério Público tem outro entendimento da participação de Rui Mão de Ferro no esquema da Operação Marquês e acusou o arguido de branqueamento de capitais e falsificação de documentos, alegando que este esteve envolvido em negócios com o empresário Carlos Santos Silva e que foi um dos seus 'testas de ferro' e de José Sócrates.
Segundo a acusação, o administrador de diversas sociedades do universo empresarial de Carlos Santos Silva terá recebido cerca de 400 mil euros como contrapartida para ser 'testa de ferro' em várias transferências de dinheiro e contrato, mas o arguido alega que foram salários.
O interrogatório de Rui mão de Ferro durou mais de três horas no Tribunal Central de Instrução Criminal.
Na sessão de quarta-feira será ouvido outro arguido, o advogado Gonçalo Trindade Ferreira que irá a tribunal a pedido de Rui Mão de Ferro.
O inquérito Operação Marquês tem 28 arguidos - 19 pessoas e nove empresas - e investigou a alegada prática de quase duas centenas de crimes de natureza económico-financeira.
O ex-primeiro ministro José Sócrates é acusado de corrupção passiva de titular de cargo político, branqueamento de capitais, falsificação de documentos e fraude fiscal qualificada.
O MP acredita que Sócrates recebeu cerca de 34 milhões de euros, entre 2006 e 2015, a troco de favorecimentos a interesses do ex-banqueiro Ricardo Salgado no Grupo Espírito Santos e na PT, bem como para garantir a concessão de financiamento da Caixa Geral de Depósitos ao empreendimento de luxo Vale do Lobo, no Algarve, e por favorecer negócios do Grupo Lena, entre outras imputações.
Entre os 28 arguidos estão Henrique Granadeiro, Zeinal Bava, Armando Vara, Bárbara Vara, Joaquim Barroca, Helder Bataglia, empresas do grupo Lena (Lena SGPS, LEC SGPS e LEC SA) e a sociedade Vale do Lobo Resort Turísticos de Luxo.