O Papa Bento XVI é acusado de ter encoberto quatro casos de abuso de menores, na altura em que era arcebispo de Munique, entre 1977 e 1981, e de não ter comunicado o sucedido ao Vaticano.
A acusação faz parte do relatório, divulgado esta quinta-feira, pelo escritório de advogados Westpfahl Spilker Wastl, a quem a Arquidiocese de Munique e Freising pediu que investigasse casos de abusos de menores ocorridos na arquidiocese, entre 1945 e 2019.
De acordo com Martin Pusch, advogado da empresa, o então Cardeal Ratzinger terá permitido que os alegados abusadores permanecessem no ativo.
No início do ano, alguns órgãos de comunicação social alemães, nomeadamente a televisão pública ZDF e o semanário “Die Ziet”, noticiaram que Joseph Ratzinger teria sido acusado de não ter comunicado ao Vaticano os abusos de menores cometidos por um sacerdote alemão, citando um decreto extrajudicial do Tribunal Eclesiástico da Arquidiocese de Munique-Freising, de 2016.
Nessa altura, o secretário pessoal do Papa Emérito, Georg Gänswein rejeitou as acusações, negando que Bento XVI tivesse conhecimento prévio da história.
Esta manhã, durante a apresentação do documento, o advogado Martin Pusch voltou a insistir que Bento XVI teria tido conhecimento dos casos.
De acordo com relatório, que resulta de uma investigação que começou há quase dois anos, foram identificados 497 vítimas e 235 alegados abusadores, refere o site espanhol Religión Digital. O documento adianta, ainda, que quase 60% dos delitos foram cometidos quando as vítimas tinham entre 8 e 14 anos.
Na sequência da notícia, a sala de imprensa do Vaticano afirmou esta manhã em comunicado que "deve ser dada a devida atenção ao documento, cujo conteúdo é desconhecido", afirmando que o mesmo será analisado "de forma cuidadosa e detalhada" nos próximos dias.
"Reiterando a vergonha e o remorso pelos abusos cometidos por clérigos contra menores, a Santa Sé expressa a sua proximidade às vítimas e reafirma os esforços para proteger os menores, assegurando-lhes ambientes seguros", afirma a nota enviada aos jornalistas.
Esta tarde, o cardeal Reinhard Marx, arcebispo de Munique, fez uma breve declaração à imprensa garantindo que a arquidiocese não teve conhecimento do conteúdo do documento até à sua publicação, esta manhã.
“O meu primeiro pensamento hoje é para aqueles que foram vítimas de abuso sexual. Como arcebispo em exercício, peço desculpas em nome da arquidiocese pelo sofrimento que foi infligido às pessoas nas últimas décadas”, afirmou o cardeal, que em 2021 chegou a renunciar ao cargo, pedido que o Papa Francisco recusou.
Bento XVI solidário com as vítimas
Georg Gaenswein, o secretário particular de Bento XVI, disse ao portal Vatican News que o Papa Emérito “congratula-se” com a investigação e a publicação do relatório, e que está “profundamente” tocado pela situação das vítimas.
O porta-voz diz que o Papa emérito “manifesta a sua vergonha e pesar” pelos abusos de menores cometidos por membros do clero, renovando “a sua proximidade pessoal e oração por todas as vítimas, algumas das quais ouviu pessoalmente durante encontros nas suas viagens apostólicas”.
De acordo com o mesmo responsável, Bento XVI não teve conhecimento prévio do relatório, até ser divulgado esta tarde, e que “nos próximos dias, estudará e examinará o texto” com “o cuidado necessário”.
[notícia atualizada]