O coordenador nacional da Liga Operária Católica/Movimento de trabalhadores Cristãos (LOC/MTC), Américo Monteiro, considera que subsídios paliativos “são essenciais”. mas são necessárias medidas “a montante” e políticos “comprometidos” que “solidifiquem” caminhos para que “os paliativos sejam menos necessários”.
“Os paliativos são essenciais numa sociedade. Mas precisamos de pessoas e políticos comprometidos que cuidem, organizem e solidifiquem a montante para que os paliativos não sejam precisos. Se há bons rendimentos do trabalho e dignidade fruto do trabalho, não serão precisos paliativos porque as pessoas terão cuidados e condições para a sua vida”, afirmou o responsável nacional à Agência ECCLESIA.
O coordenador nacional da LOC/MTC reconhece a necessidade de “encontrar soluções para a pobreza e acesso a bens essenciais” que evitem que se aja apenas sobre as consequências da pobreza.
“Temos de encontrar respostas sólidas, conjuntas e partilhadas, para que o país evolua para uma consolidação da vida”, sublinhou.
Américo Monteiro referiu-se ao apoio extraordinário que o Estado começou a dar, em montante único de 125 euros a residentes não pensionistas, com um rendimento mensal bruto até dois mil e 700 euros e de 50 euros por dependente até aos 24 anos de idade, para fazer face à inflação que se situa atualmente nos 10%.
“No meio de muitas dificuldades qualquer bocadinho de apoio é sempre útil e bem recebido pelas pessoas. Claro que não é solução a longo prazo porque os trabalhadores querem enfrentar a vida com o fruto do seu trabalho. Porventura terá sido mal apresentada a solução, mas a discussão de ser ou não, centra-se mais ao nível politico do que ao nível da vida quotidiana”, especificou.
O responsável lamenta que a ajuda
seja “pontual” porque as dificuldades dos trabalhadores “vão continuar a
existir e os problemas vão ser vividos com maior incidência no próximo ano”.
“Sempre houve pobres que trabalhavam, agora os números são mais altos. Hoje, com o nível de vida que temos, a pobreza aumenta, e muitos dos pobres são pessoas com emprego que não ganham o suficiente para suprir necessidades. Com a crise económica, a pandemia e a situação de guerra, a vida agrava-se”, apresentou.
Américo Monteiro teme um aumento do desemprego nos próximos tempos e sérias dificuldades de pobreza no país “desequilibrado” que e que continua, “de forma errada” a pensar que “na aldeia qualquer pessoa tem um quintal para plantar e poder comer o que o salário não faz chegar” – “Isso, hoje, é uma realidade diminuta”.
O orçamento de Estado para 2023 foi aprovado na generalidade, na Assembleia da República, seguindo agora para a sua discussão na especialidade até ao dia 25 de novembro; o Presidente da República chamou esta sexta-feira os conselheiros de Estado para debater a situação social do país, tendo a Presidência da República emitido um comunicado que dá conta da necessidade de “concretizar políticas” que combatam a pobreza e façam “diminuir as desigualdades sociais”.
“Foi realçada a importância de concretizar políticas que permitam mitigar a inflação e seus efeitos e incentivar o crescimento, tendo como preocupação o combate à pobreza, a diminuição das desigualdades sociais e bem-estar dos cidadãos. E conjugando exigências prementes de curto prazo com perspetivas de médio e longo prazo”, pode ler-se.
Américo Monteiro assinala a tomada de posição de Marcelo Rebelo de Sousa ao convocar os conselheiros de Estado, como um sinal “para a Europa”, e “mantendo-se atento, auscultando para dialogar sobre possíveis soluções que compete ao governo tomar”.
“Preocupa-me que a política em Portugal viva do ataque. Não há uma tentativa de aproximação nas questões essenciais para resolver os problemas do país. Não há entendimento entre sindicatos, patrões, políticos, e caímos em radicalismos. Quem devia ter bom senso no nosso país não faz esforço de aproximação. E o povo revolta-se porque há quem se aproveite dos lugares públicos e quem procura ajudar o país não é reconhecido. É cíclico”, lamenta.
O coordenador nacional da LOC/MTC afirma-se pouco “otimista” sobre a vida dos trabalhadores num futuro próximo.
“Estamos ainda no princípio do que serão as consequências da guerra. A inflação está em 20% nos países vizinhos do conflito. As política da Europa podem diminuir algumas consequências, mas ao arrastar-se no tempo, elas não vão resolver os maiores problemas, de energia, acesso a bens, serviços e alimentação. É pouco provável que o futuro seja bom. E os pobres são quem fica pior: os que vão morrer na guerra e os que pagam o preço mais alto. Não estou otimista sobre a realidade de vida dos trabalhadores num futuro próximo”, lamentou.