​Cristas desconfia do que a “família socialista” está a preparar no Montepio
21-12-2017 - 00:00
 • Eunice Lourenço (Renascença) e David Dinis (Público)

Em entrevista ao programa “Hora da Verdade” da Renascença, a líder do CDS acusa o ministro Vieira da Silva de falta de transparência e de estar frágil demais para conduzir esse negócio e as negociações da Autoeuropa.

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A líder do CDS, Assunção Cristas, é “frontalmente contra” a entrada da Santa Casa no Montepio. Em entrevista ao programa “Hora da Verdade” da Renascença, acusa o ministro Vieira da Silva de falta de transparência e de estar frágil demais para conduzir esse negócio e as negociações da Autoeuropa.

“Olhe para quem está de um lado, olhe para quem está do outro. Olhe para a grande família socialista”, desafia Assunção Cristas, falando sobre a entrada da Santa Casa no Montepio.

Acha que, face ao caso Raríssimas, Vieira da Silva tem condições para continuar?

É claramente um ministro muito fragilizado. E um ministro fragilizado tem dificuldade, por exemplo, em ter o peso político, credibilidade para temas tão importantes como o da Autoeuropa - que é tema que nos preocupa muito e onde o Governo tem estado particularmente mal. Porque chegou tarde, devia pôr isto como tema central nas conversas com o Bloco de Es querda e PCP e não o tem feito. Claro que um ministro que tem de se explicar, que vai ao Parlamento, que não consegue responder a todas as perguntas, é um ministro que fica com as suas condições de acção muito limitadas, em dossiês muito importantes para o país. Outra área, por exemplo: a do Montepio e da Santa Casa da Misericórdia.

Ia perguntar-lhe também sobre esse negócio.

Também é da tutela directa de Vieira da Silva. No penúltimo debate quinzenal perguntámos ao primeiro-ministro e as respostas são sempre vagas, sem nenhum estudo em concerto. Não sabemos quanto vale o Montepio, quanto vale a entrada da Santa Casa. Dizem-nos que o Montepio está muito bem, que não precisa de dinheiro nenhum. Então porquê pôr lá a Santa Casa? Porque é um bom negócio? O dinheiro dedicado às pessoas mais pobres ser alocado para um banco, quando a banca tem este histórico que acabámos por ver nos últimos anos? Há aqui muita coisa por explicar: tinha-se falado em 60 milhões, agora são 200 milhões? Por 10%? O que é que estamos a discutir?

A sustentabilidade do Montepio?

Já fiz essa pergunta ao primeiro-ministro. Quem é que precisa deste negócio?

Santana Lopes, candidato à liderança do PSD e foi provedor, deu sequência às negociações e defendeu que era um cenário plausível dentro da missão da Santa Casa.

Sabemos agora que aparentemente com muitas reservas e condições: de que entrassem outras entidades da área social, de um estudo de que não temos conhecimento. Sem mais esclarecimentos, a nossa posição só pode ser frontalmente contra este negócio, que achamos pouco esclarecido, pouco transparente.

Acha que há mão do Governo?

O Governo tem a tutela da Santa Casa. E a Santa Casa, obviamente, não faz um negócio sem passar cartão ao Governo - como o Governo quer fazer crer. Veja as relações entre a Santa Casa, o Montepio e o actual provedor da Santa Casa e as dúvidas ainda se adensam mais.

De que relação é que ia falar, do actual provedor com o Montepio?

Olhe para quem está de um lado, olhe para quem está do outro. Olhe para a grande família socialista. E no fundo, o que me é dado pensar, é que isto é tudo elaborado com muita facilidade entre uns e outros, chegando a soluções que não têm os reais interesses dos portugueses em primeiro lugar.

O negócio da compra da TVI pela Altice também a preocupa? E a situação da própria empresa?

Preocupa, claro que sim. Aqui o que esperamos é que as instituições que têm que ter uma intervenção a tenham - e a tenham de uma forma firme. Da ERC, à Autoridade da Concorrência. Todo o sector da comunicação social preocupa - e muito -, tendo em conta o que tem estado a acontecer: desmembramento de grupos, a verticalização no caso da Altice. Sabemos que há regras, há instituições que têm que funcionar. Não gostamos de interferir onde há regulação, mas teremos depois de interferir na avaliação sobre se essas entidades, que funcionam a bem da democracia, se souberam ter um papel relevante ou não.

O CDS equacionou pedir uma comissão parlamentar de inquérito sobre o caso de Tancos?

Nós não gostamos de estar sempre a pedir comissões de inquérito. A dada altura o Parlamento não faz outra coisa - e tem que ser para situações muitíssimo excepcionais. As explicações têm sido dadas à porta fechada, o CDS tem sido particularmente activo, mas continuamos a achar que há uma parte por esclarecer. E uma parte que tem a ver com a responsabilidade política que continua solteira. Há muito que o ministro não tem condições para continuar no cargo.

Relativamente aos incêndios, o CDS ficou satisfeito com as cedências do Governo?

É uma matéria que continua a preocupar-nos bastante. O Governo assumiu finalmente que tinha de pagar indemnização às vítimas, incluindo os feridos graves. Foi fixado um valor de 70 mil euros. Eu não compreendo como é que ainda não foi pago. Em Espanha, na Galiza, as pessoas foram logo indemnizadas. O que é que se está à espera em Portugal? Já passaram seis meses, esperamos que aconteça muito rapidamente.