De pé em cima do gradeamento do acesso à estação de Metropolitano, João Pereira acede com dificuldade a uma mochila de onde retira um livro para ler, enquanto aguarda pelo comboio na estação do Cais do Sodré, já a fervilhar de gente às primeiras horas da manhã.
João admite surpresa pelos resultados eleitorais de ontem, sobretudo os que foram obtidos pelo Chega, que triplicou o número de deputados face às eleições de 2022.
"Não esperava que o Chega tivesse aquele impacto tão grande. Estava à espera de uma maior votação, mas não aquele impacto", admite, enquanto faz contas ao futuro. Não havendo entendimento entre AD e Chega, devido ao repetido não de Luis Montenegro, não resta outra alternativa senão um governo minoritário.
"Ou seja, deixar as coisas como estão. Se quiserem resolver algum assunto ou avançar com alguma medida, debatam. É para isso que eles lá estão e é para isso que eles ganham, não é?"
Ainda assim, sublinha que não vai ser fácil nem longa a vida de um governo minoritário.
Mais um mar de gente enche por momentos a estação. Muitos atravessam-na, vindos do terminal fluvial. Muitos outros chegam vindos da linha ferroviária de Cascais, como Ana Ferreira, também surpreendida - e preocupada - com os resultados das eleições.
"Não esperava que o Chega chegasse onde chegou. Não estou satisfeita, estou com algum receio. Isto não vai melhorar ao nível da educação e do SNS", só para referir algumas áreas.
Um resultado que Ana acha que pode explicar-se pela redução da abstenção, que terá levado "muita gente nova a votar". E serão esses os "mais influenciáveis por discursos populistas".
Junto à passagem da estação para a 24 de Julho, já atolada de utentes da Carris à espera de elétrico ou autocarro, Fernando Ferreira olha para as capas dos jornais na montra de uma papelaria. Admite que ficou surpreendido com o resultado do Chega, mas também acredita que se ficou a dever a um "castigo" do eleitorado, reflexo da falta de soluções para problemas em áreas como a Justiça e o SNS.
"O Chega foi uma resposta a todos esses problemas".
Em passo apressado, vinda do terminal fluvial, Ana Rita vem de traje académico, a caminho da Faculdade. Votou ontem pela primeira vez, e diz-se desiludida pelo resultado obtido pelo seu partido. Não estava à espera, nem da proximidade de resultados entre PS e a AD nem do "grande resultado" do Chega. Acha que os votos da emigração não deverão mudar grande coisa, e, contas feitas, a solução será um governo minoritário, ainda que não considere que essa não é a melhor solução.
"Não, de todo. Mas pronto, agora é ver o que é que acontece".