Carmo Gomes: Crítico da ação do Governo deixa apresentações no Infarmed
09-02-2021 - 14:35
 • Susana Madureira Martins , com redação

A ministra da Saúde justifica o fim das intervenções de Carmo Gomes nas reuniões do Infarmed por questões de agenda e garante que o Governo está aberto à crítica e a ouvir "propostas alternativas" para travar a Covid-19.

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Manuel Carmo Gomes, um dos especialistas mais críticos das orientações do Governo, vai deixar de participar nas apresentações do Infarmed sobre a evolução da pandemia de Covid-19.

A notícia foi confirmada esta terça-feira pela ministra da Saúde, Marta Temido, que rejeita qualquer afastamento por motivos políticos.

O epidemiologista Manuel Carmo Gomes, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, fez esta terça-feira a última intervenção, em que defendeu uma resposta agressiva à pandemia e criticou a insuficiência das medidas adotadas a 12 de janeiro.

A ministra da Saúde justifica o fim das intervenções de Carmo Gomes nas reuniões do Infarmed por questões de agenda.

“Por razões da sua vida profissional optou por, neste momento, pedir para continuar a poiar o grupo, mas não realizar apresentações presenciais”, disse Marta Temido aos jornalistas.


“O professor Carmo Gomes é também membro da comissão técnica de acompanhamento da Covid-19. É uma questão de gestão de agenda”, sublinhou.

Questionada sobre a saída de um crítico da estratégia do Governo, Marta Temido garante que “não serão essas as razões” para os especialistas estarem mais presentes ou mais nos bastidores.

“Nós temos recebido várias recomendações e sugestões ao longo deste processo, que deliberadamente e desde o início, tornámos público e partilhado com todos. Acreditamos que as recomendações e propostas alternativas são formas de progredir. Por isso mesmo, temos estas discussões com todos os representantes dos partidos, com todos os atores da sociedade portuguesa e agora abertas ao público”, sublinha a ministra da Saúde.

Em declarações ao jornal "Público", Manuel Carmo Gomes rejeita qualquer ligação entre abandonar as apresentações no Infarmed e o seu desacordo com a ação do Governo no combate à pandemia.

“Vou continuar a apoiar as reuniões do Infarmed, poderei estar presente para esclarecer dúvidas. Agora, deixo de estar obrigado a fazer apresentações, porque estou muito sobrecarregado com a Comissão Técnica de Vacinação [da Direcção-Geral da Saúde, comissão de que é membro] e porque as aulas [na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, onde é professor] vão começar”, explica o epidemiologista.

A última intervenção de Carmo Gomes

Na intervenção desta terça-feira no Infarmed, o epidemiologista disse Portugal poderá atingir os 3.000 novos casos diários de covid-19 dentro de aproximadamente duas semanas.

“Neste momento, estamos a estimar que teremos uma redução a metade do número de casos em aproximadamente 14 dias, o que significa que dentro de aproximadamente duas semanas poderemos chegar à zona dos três mil casos”, disse o investigador da Faculdade de Ciências da Universidade Nova de Lisboa.

Segundo Manuel do Carmo Gomes, a “grande desaceleração” do número de novos casos foi “verdadeiramente” observada entre 28 e 29 de janeiro, o que corresponde, contando com sete dias de atraso, às medidas que foram implementadas a partir do dia 21 de janeiro.

“Só a partir de 31 de janeiro, mas a começar logo a 28 de janeiro a velocidade de aquisição de novos casos começa finalmente a chegar a zero e a descer”, disse o especialista na reunião que reúne investigadores, o primeiro-ministro, o Presidente da República, a ministra da saúde, partidos, confederações patronais, estruturas sindicais e conselheiros de Estado.

Manuel do Carmo Gomes sublinhou que foi “a redução drástica dos contágios a partir do dia 21, e não antes, que causa esta descida abrupta em todas as idades”.

“A evolução da curva epidémica já em descida”, afirmou, sublinhando que o ‘R’ (índice de transmissibilidade) tem apresentado uma tendência descendente, neste momento estimado em 0,82.

O investigador explicou que para um determinado nível de confinamento, o ‘R’ começa por descer e depois tem tendência a estabilizar. “Neste momento, ele está negativo, há sinais muito leves de estabilização, temos que esperar os próximos dias para ver”.

Mas, acrescentou, “o facto de o ‘R’ estar com um nível baixo (0,82) significa que o número de casos vai continuar a descer, mas a velocidade a que desce pode parar de aumentar”.

Após ouvir os peritos no Infarmed, a ministra da Saúde disse que, apesar da melhoria nos números da pandemia, "é bastante evidente que o atual confinamento tem de ser prolongado por mais tempo".

Marta Temido, que falava no final de uma reunião com peritos no Infarmed, explica que os modelos matemáticos apontam como necessário um confinamento de 60 dias para Portugal voltar a ter "cuidados intensivos com ocupação abaixo das 200 camas e incidência a 14 dias abaixo dos 60 casos por 100 mil habitantes".

Portugal regista esta terça-feira mais 203 mortes por Covid-19, 2.583 novos casos e menos 274 internados, indica a Direção-Geral da Saúde (DGS).

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