Oito efetivos da Brigada de Salvamento Mineiro das Astúrias começaram a descer, nesta tarde de quinta-feira, pelo túnel vertical com vista a, debaixo de terra, escavarem o caminho até à criança que caiu num poço com mais de 100 metros de profundidade, há 11 dias.
“Nenhum mineiro fica dentro de uma mina e neste momento Julen é um mineiro” – foi com este espírito que a equipa, que chegou ao local há mais de uma semana, iniciou a sua missão.
“São os mais qualificados. Os que mais se destacam entre todos nós, os mais hábeis”, garante José Ángel Quirós, um mineiro de 21 anos.
“Os mineiros da Brigada são os mais hábeis e rápidos em todos os terrenos”, porque se complementam naquilo em que uns e outros são melhores, “e têm as qualidades necessárias para fazer seja o que for que seja necessário ali em baixo”, adianta ao jornal “El País”.
Antes da descida, e durante a manhã, ultimaram-se os preparativos para uma operação que se pretende de sucesso e sem mais contratempos. Por isso, antes da descida propriamente dita, a equipa fez vários ensaios.
Quando começou a operação, foi criado um cordão em redor do local, com camiões e tendas, que, além ali estarem de prestar apoio, têm também como objetivo tapar a visibilidade às câmaras de televisão que se encontram no local.
Operação de 24 horas em condições de “extrema dureza”
A descida na vertical é de 60 metros. Aí chegados, os mineiros começam a escavação de um túnel horizontal, em direção ao local onde se pensa estar Julen, a cerca de 73 metros de profundidade.
As condições para o trabalho são das piores que se pode desejar: “não há espaço para o braço, para fazer força, para se mover em condições”, afirma o mineiro José Ángel Quirós. Além disso, o oxigénio escasseia.
Daí, os ensaios anteriores, para “garantir que tudo está em ordem” e que até “as peças de reposição estão disponíveis”, explicaram fontes ligadas às equipas de resgate ao “El Mundo”.
“Os equipamentos de respiração, iluminação e comunicação são revistos muitas vezes, mas agora devemos fazê-lo mais uma vez, porque é o momento final”, avançam as mesmas fontes, garantindo que os mineiros estão cheios de vontade de começar a trabalhar.
“Estão ansiosos para chegar lá. Há dias que esperam por este momento, preparados para o desafio”, garantem.
A Brigada de Mineiros chegou a Totalán a 15 de janeiro, dois dias depois do acidente. Esperava-se que pudessem entrar no subsolo em breve, mas as dificuldades do terreno levantaram muitos contratempos ao resgate.
Ao 11º dia, foi finalmente possível fazer descer a equipa – que é complementada no terreno por agentes da Guardia Civil (oito especialistas de montanha e dois de atividades subaquáticas) e oito bombeiros.
O resgate parece entrar na reta final. O comando passou para os mineiros. Segundo o “El Mundo”, a operação, “em condições de extrema dureza, pode levar 24 horas”.
Começou a contagem decrescente.
“A última noite” de Julen no poço
Numa conferência de imprensa dada esta quinta-feira de manhã, o porta-voz da família afirmou: “Hoje será, seguramente, a última noite que Julen passa ali”.
Na breve declaração, Juan José Cortés pediu ainda aos órgãos de comunicação social e a todas as pessoas que não partilhem notícias falsas, nomeadamente a que anuncia que Julen já apareceu.
“Julen não apareceu e a família pede respeito. Serão tomadas todas as ações legais contra os meios que divulgaram essa informação”, afirmou.
“Não sei onde vou buscar as forças”, afirmou, por seu lado, o pai de Julen. “O que estão a fazer não tem perdão de Deus”, acrescentou, condenando os responsáveis por tais notícias e “posts”.
O avô da criança anunciou ainda uma vigília pelos mineiros, esta quinta-feira, às 20h30 (menos uma hora em Lisboa).
Petição pede prémio para mineiros
Está em curso uma petição em Espanha a pedir que o Prémio Princesa das Astúrias de la Concordia seja concedido à Brigada de Salvamento Mineiro de Humosa, pela sua participação no resgate de Julen.
“De uma maneira totalmente altruísta, estes mineiros ofereceram a sua ajuda e vieram da outra parte do país para pôr em risco a sua integridade física com vista a salvar a vida deste menino”, lê-se no texto.
A petição, que pode ser encontrado aqui (change.org), já conta com cerca de oito mil assinaturas.