Mesmo do outro lado do mundo, o Papa Francisco não esquece os dramas dos refugiados e migrantes que saem dos seus países em busca de melhores condições de vida. Esta tem sido uma preocupação constante do Papa desde a sua eleição em 2013.
Esta quinta-feira, no seu primeiro discurso na Tailândia, Francisco elogiou a forma como aquele país tem acolhido refugiados de muitos dos países vizinhos e pediu às sociedades de todos os países do mundo que saibam ser “artesãos da hospitalidade”, dizendo que este é “um dos principais problemas morais colocados à nossa geração”.
Num discurso às autoridades civis da Tailândia, onde estiveram presentes também os membros do corpo diplomático acreditados àquele país, Francisco avisou que “não se pode ignorar a crise migratória. A própria Tailândia, conhecida pela hospitalidade que tem oferecido aos migrantes e refugiados, viu-se perante esta crise devido à fuga trágica de refugiados dos países vizinhos" e pediu "que a comunidade internacional atue com responsabilidade e clarividência, possa resolver os problemas que levam a este êxodo trágico e promova uma migração segura, ordenada e regulamentada.”
Neste assunto, disse, Francisco pensa sobretudo “nas mulheres e nas crianças de hoje que são particularmente feridas, violentadas e expostas a todas as formas de exploração, escravidão, violência e abuso. Expresso o meu agradecimento ao Governo tailandês pelos seus esforços para extirpar este flagelo, bem como a todas as pessoas e organizações que trabalham incansavelmente para erradicar este mal e proporcionar um caminho de dignidade”.
“Hoje mais do que nunca as nossas sociedades precisam de ‘artesãos da hospitalidade’, homens e mulheres que cuidem do desenvolvimento integral de todos os povos, no seio duma família humana que se empenhe a viver na justiça, solidariedade e harmonia fraterna”, concluiu.
Na Tailândia vivem mais de 93 mil refugiados, em nove campos. A maioria é oriunda da Birmânia.
Tolerância religiosa
Durante o seu discurso com as autoridades Francisco referiu ainda a histórica tolerância da Tailândia para com as diferentes culturas e religiões. Este respeito pela identidade dos povos é algo a ser protegido em tempos de globalização, alertou. “A época atual está marcada pela globalização, considerada com demasiada frequência em termos estritamente económico-financeiros e propensa a cancelar as notas essenciais que configuram e geram a beleza e a alma dos nossos povos; ao contrário, a experiência concreta de uma unidade que respeite e salvaguarde as diferenças serve de inspiração e incentivo para quantos têm a peito o mundo tal como o desejamos legar às gerações futuras.”
Depois deste encontro com as autoridades civis Francisco foi recebido pelo Supremo Patriarca da comunidade budista tailandesa, que representa a esmagadora maioria da população daquele país asiático, onde sublinhou o facto de a pequena comunidade católica, que remonta à chegada àquele país de portugueses, há cinco séculos, ter vivido quase todo este tempo “em harmonia com os seus irmãos e irmãs budistas”.
Esta harmonia é a base sobre a qual se pode edificar um trabalho comum em favor dos mais pobres e pelo cuidado do planeta. “Desejo reiterar o meu empenho pessoal e o de toda a Igreja no fortalecimento de um diálogo aberto e respeitoso ao serviço da paz e do bem-estar deste povo. Graças aos intercâmbios académicos, que permitem uma maior compreensão mútua, e também ao exercício da contemplação, da misericórdia e do discernimento – tão comuns às nossas tradições –, poderemos crescer num estilo de boa ‘vizinhança’. Poderemos promover entre os fiéis das nossas religiões o desenvolvimento de novos projetos de caridade, capazes de gerar e incrementar iniciativas concretas no caminho da fraternidade, especialmente com os mais pobres, e em referência à nossa casa comum tão maltratada.”
Minoria ativa
Os cristãos são pouco mais de 1% da população tailandesa e apenas cerca de metade destes são católicos. Contudo, há séculos que a Igreja está investida nas obras sociais, operando hospitais e colégios que são muito procurados e respeitados pelos tailandeses.
Foi precisamente um desses hospitais, o de St. Louis, fundado há 120 anos, que Francisco visitou esta terça-feira. Ao pessoal desse hospital e outros o Papa fez questão de dizer que o compromisso assumido pela saúde dos habitantes “vai muito além de um simples e louvável exercício da medicina”.
“Tal compromisso não se pode reduzir apenas à realização de algumas ações ou determinados programas, mas deveis ir mais além, abertos ao imprevisto, ou seja, acolher e abraçar a vida como chega à urgência do hospital para ser atendida com uma compaixão especial, que brota do amoroso respeito pela dignidade de todos os seres humanos.”
Por essa razão também os profissionais devem estar abertos à ajuda espiritual. “Sei que o vosso serviço pode, às vezes, ser pesado e extenuante; viveis no meio de situações extremas, e isto requer que possais ser acompanhados e assistidos no vosso trabalho. Daí a importância de desenvolver uma pastoral da saúde, na qual não só os pacientes, mas todos os membros desta comunidade possam sentir-se acompanhados e sustentados na sua missão.”
“Sabei também que os vossos esforços e o trabalho das várias instituições que representais são o testemunho vivo do cuidado e atenção que somos chamados a demonstrar por todas as pessoas, especialmente pelos idosos, os jovens e os mais vulneráveis”, disse.
O Papa terminou a sua visita ao hospital com um encontro mais pessoal com doentes e deficientes “podendo assim acompanhá-los, pelo menos um pouco, no seu sofrimento”.
Francisco procurou explicar como mesmo este sofrimento pode ser encarado de uma perspetiva cristã. “Sabemos que a doença traz sempre consigo grandes interrogações. A primeira reação pode ser rebelar-nos, chegando mesmo a viver momentos de confusão e desolação. É o grito que brota da dor, e assim deve ser; o próprio Jesus, sofrendo, o deu. Com a oração, queremos unir-nos também nós ao d’Ele. Unindo-nos a Ele na sua paixão, descobrimos a força da sua proximidade”.
Esta quinta-feira o Papa é recebido pelo Rei da Tailândia num encontro privado e tem ainda uma atividade pública, celebrando missa com a comunidade católica de Banguecoque. A visita do Papa à Tailândia continua na sexta-feira e no sábado de manhã ruma para o Japão, onde estará até terça-feira da próxima semana.