Hidrogénio verde. Tecnologia “pioneira" é portuguesa e cabe “na palma da mão”
27-07-2021 - 18:58
 • Rosário Silva

O projeto é da empresa portuguesa Fusion Fuel que está a desenvolver o projeto H2 Évora. Os dois parques solares para produzir hidrogénio verde deverão estar a funcionar, em pleno, em setembro. O ministro do Ambiente esteve no Alentejo e não se esqueceu dos “críticos do hidrogénio”.

O concelho de Évora foi escolhido para a instalação de dois parques para a produção de hidrogénio verde, com recurso a tecnologia portuguesa “inovadora e pioneira” no mundo.

O projeto H2 Évora é da empresa nacional Fusion Fuel e deverá estar em pleno funcionamento a partir do mês de setembro.

A primeira fase deste “projeto de produção de hidrogénio verde”, o Green Gas I, em Nossa Senhora da Tourega, “é composto por 15 unidades seguidoras de produção denominadas Hevo Solar, que captam e concentram a radiação solar 1.500 vezes”, revela à Renascença João Teixeira Wahnon.

“Tirando partido dessa energia concentrada e do que calor que isso produz”, adianta o administrador da Fusion Fuel, “permite realizar a eletrólise para produção do hidrogénio verde em alta eficiência, que se reflete em baixo custo.”

A empresa escolheu Évora, “uma zona de radiação alta”, para instalar este projeto que recorre a uma tecnologia “pioneira” no mundo.

“Neste momento não há ninguém no mundo a produzir hidrogénio verde utilizando a concentração da radiação solar, por isso a nossa tecnologia é altamente inovadora e é o primeiro projeto mundial à escala de produção”, acrescenta o responsável.

A energia produzida será, depois, injetada na rede “a preços de mercado” e a ideia é “produzirmos energia durante o dia e, após o pôr do sol, iniciaremos a conversão do hidrogénio em eletricidade”, adiciona.

Em construção está já a segunda fase do projeto, Green Gas II, que vai ter 40 unidades Hevo Solar. O investimento global atinge os 4,8 milhões de euros.

Mas, afinal, que sistema é este e o que faz?

“Este sistema, no mesmo local, recolhe a radiação solar, transforma em energia elétrica, gera calor, junta os dois num eletrolisador, gerando energia de imediato”, explica Jaime Silva.

Este responsável da Fusion Fuel refere que “é tudo feito no mesmo ponto, do tamanho da palma de uma mão”, sendo, depois, replicada em todas as unidades.


A eficiência com que é feita a conversão de radiação solar em hidrogénio “é muito alta, na ordem dos 28%”, indica, se comparado com as tecnologias tradicionais “que andam, seguramente, por menos de metade.”

Neste primeiro parque piloto, toda a tecnologia é portuguesa, desde a “concentração solar, os processos eletroquímicos, a montagem ou a produção”.

Jaime Silva sublinha que todo o processo permite que “o hidrogénio seja produzido com um custo bem mais baixo que as tecnologias tradicionais”, no imediato, “na ordem dos 40%”.

“Pelo ganho da eficiência, vem a redução do custo”, sustenta.

“Críticos do hidrogénio não acertaram nenhum dos argumentos”

De visita ao novo parque solar na zona de Évora, onde foi apresentado, nesta terça-feira, o projeto para a produção de hidrogénio verde, o ministro do Ambiente e da Ação Climática mostrou-se “muito entusiasmado” com o que viu, e aproveitou para lembrar “os críticos do hidrogénio” que, afinal, “não acertaram em nenhum dos argumentos”, a começar pelo preço.

“É ver que hidrogénio verde já tem um preço parecido com o do hidrogénio cinzento e do hidrogénio castanho, e é ver, sobretudo, como as fontes de energia coocorrentes ao hidrogénio verde, são cada vez mais caras, com o aumento do custo do CO2”, afirmou Matos Fernandes.

Também “erraram”, segundo o ministro, quanto à criação de emprego e do ponto de vista do investimento e da tecnologia nacional.

É da maior relevância que estejamos a ver aqui exercícios de tecnologia portuguesa, de coisas inventadas cá, construídas cá, que são exportadas com muito gosto para Marrocos, para a Austrália e para outros países que não Portugal”, salientou o governante.

Para João Pedro Matos Fernandes, é destes exemplos que Portugal precisa, se quer ser “um país neutro em carbono em 2050” e para que aa Europa continue a manter a sua liderança em matéria de combate às alterações climáticas.

Se a Europa é hoje o espaço territorial que lidera o combate às alterações climáticas, é absolutamente essencial que, neste quadro, surjam os projetos industriais certos, e Portugal está na linha da frente desta transformação, como mostra este projeto”, destacou o ministro do Ambiente e da Ação Climática.

Este será o “continente que vai dar cartas nesta matéria”, por isso, “por razões ambientais, por razões de sustentabilidade e de desenvolvimento económica e social”, a Europa “não pode perder esta liderança”, alertou Matos Fernandes.