Fiquei apreensiva com as notícias do novo logotipo (leia-se “imagem gráfica”) do Governo.
Provavelmente não pelas razões que a maioria foi referindo nas diversas opiniões que fui lendo nas redes sociais (a simplicidade do símbolo, quase ingénuo; o valor pago ao designer, a remoção de símbolos da bandeira de Portugal, etc.).
O que me impressionou foi o argumento para a mudança: integração? A sério? Integração? Estamos todos a brincar?
Simplicidade do símbolo e valor pago
O símbolo passou a ser, e desculpem-me a frontalidade, um retângulo, um círculo e um quadrado.
Por três formas geométricas, o Estado pagou 75 mil euros. Eu até pagaria mais por um símbolo mais elaborado, mas um retângulo verde, um círculo amarelo e um quadrado vermelho, desculpem-me a falta de sensibilidade para a arte naif. E desculpem-me quando ofendo a arte naif. Este símbolo foi criado como são desenhadas as primeiras bandeiras pelas crianças no jardim de infância e no 1º ciclo. É este o tipo de associação, interpretação ou “imagem gráfica” que o Governo quer transmitir?
É assim que queremos gastar a folga orçamental? Eu tenho ideias melhores: que tal educação, saúde, justiça…
A remoção dos símbolos da bandeira de Portugal
Pessoalmente (e sei que isto é uma opinião muito pessoal) não acho que o símbolo tenha obrigatoriamente de ter todos os elementos da bandeira nacional. Que era preferível, diria que sim: é o Governo de Portugal e não de outro país qualquer. Mas não tem de ser obrigatório.
Dito isto, percebo que poderíamos ter optado por um símbolo que fosse mais simples, mais moderno, mais fácil de comunicar, mais simples de usar em vários meios de comunicação (nomeadamente digitais). Estes argumentos, eu entenderia.
Não compreendo o argumento para a “simplificação” do símbolo (referido no Manual de Aplicação da Identidade Visual): “Através da síntese formal, a nova imagem afirma-se também inclusiva, plural e laica”.
Plural e Laica
Os sete castelos e as cinco quinas…não estamos a tornar o símbolo ainda menos plural e menos laico?
Somos um Estado laico. Mas somos um povo culturalmente cristão. Sendo laicos ou crentes, com ou sem religião, a Cristandade faz parte da nossa história e da cultura. Ninguém se sente obrigada à conversão, ou intimidado por existir uma alusão nas cinco quinas à história e cultura de Cristandade na Nação. Se é por uma questão de alguém se sentir incomodado, fico bem mais incomodada com o vermelho da bandeira, como símbolo dos portugueses mortos em combate. Não deveriam ter existido mortos em combate. É por isso que acho que se deve excluir o vermelho? De forma alguma.
Os sete castelos a quem ofendem? Serão os árabes a quem os castelos foram conquistados incomodados pelos castelos da bandeira? Vamos derrubar os próprios castelos como símbolo dessa conquista? Não representam exatamente o oposto, que é a integração do Algarve? Ao retirar esta alusão estamos a ser mais plurais? Estamos só a ser bacocos.
“Esconder” estes símbolos da nossa história estamos a renegar o que já fomos como país. Estamos a ser menos plurais – a renegar o que já fomos.
A justificação de inclusão ou integração
Não é removendo a esfera armilar (ou reduzindo-a à representação do círculo amarelo), que representa a época dos descobrimentos portugueses (ou a expansão marítima, se preferirem), que nos tornamos uma nação mais inclusiva.
Os descobrimentos portugueses, para o bem e para o mal fizeram parte da nossa história. Com erros e virtudes, tornaram-nos a nação que somos hoje. Apagar isso, não integra ninguém. Desintegra-nos como cultura portuguesa.
Se alguém realmente estivesse preocupado com a integração de todos, facilitava o processo de legalização de quem cá está, dava-lhes condições de trabalho (que por vezes é tão somente deixarem-nos trabalhar), permitia que vivessem, que abrissem uma conta bancária, que realizassem um contrato de arrendamento, que pagassem impostos, que fossem contribuintes e beneficiários da Segurança Social, que os seus filhos estivessem nas escolas, que os filhos crescessem como meninos portugueses (que na maioria dos casos já são por praticidade, só não são por direito). Assim, ajudávamos a integração e não com imagens bacocas a esconder o que somos.
Estamos preocupados com o acessório da integração e não a focar com o que realmente importante.
Rute Xavier, professora na Católica Lisbon School of Business & Economics
Este espaço de opinião é uma colaboração entre a Renascença e a Católica Lisbon School of Business and Economics